Rossandro Klinjey fala do papel da Espiritualidade para vencer a ansiedade, a depressão e o medo

O psicólogo clínico, palestrante e escritor, em sua abordagem, destacou Como aliar a Fé e a ciência no cuidado da Alma

Da redação

11/05/2022 às 09h32 - quarta-feira | Atualizado em 11/05/2022 às 11h29

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Dados apresentados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) alertam para o fato de que nosso país é o mais ansioso do mundo — 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população) sofrem com esse problema — e é o segundo das Américas com mais casos de depressão, atingindo cerca de 12 milhões ou 5,8% dos brasileiros com a referida doença. A pandemia da Covid-19, que provocou isolamento e insegurança socioemocional, só fez aumentar o número de pessoas com transtornos mentais.

Arquivo Pessoal

Rossandro Klinjey

Para ajudar a suplantar tempos tão desafiadores de medo, estresse e cansaço mental, sentimentos que estão pressionando e sufocando a vida diária de sociedades inteiras, o Fórum Mundial Espírito e Ciência (FMEC), da Legião da Boa Vontade, promoveu uma roda de conversa virtual*, em 1° de abril deste ano, com Rossandro Klinjey, psicólogo clínico, palestrante e escritor, que, em sua abordagem, destacou o papel da Espiritualidade no cuidado da Alma e no bem-estar emocional dos indivíduos. 

A CONEXÃO PELO SAGRADO

Estamos vivendo em uma sociedade com muitas transformações, e elas antecederam a pandemia e a guerra entre Rússia e Ucrânia. É importante refletir quanto tudo isso está repercutindo no planeta, na nossa paz de espírito, nos nossos medos e anseios. Buscar respostas para as angústias é bem comum, e hoje a gente tem muitos atores ou players (para usar uma palavra muito da moda) que estão aí para nos ajudar de algum modo. No campo da Fé, antigamente, somente os religiosos representavam esse suporte, esse apoio, mas agora há várias vertentes nesse movimento de cuidar da Alma, como as ciências do comportamento humano, a Psicologia, a Psiquiatria, temos filosofias... São caminhos que levam o ser humano a se conhecer, a se perceber e a saber como singrar na vida da melhor forma possível, nesse oceano infinito de possibilidades e surpresas, que é o mundo. Quando não nos conhecemos, desenvolvemos uma angústia de alma muito profunda, porque esse não aprendizado nos desconecta do sagrado. Se fomos feitos à imagem e semelhança de Deus, precisamos nos conectar a esse sagrado a partir dessa Representação Divina que há em nós. (...) Começo citando trecho de uma música de um brasiliense — em lembrança à sede da LBV em Brasília [, onde estão o Templo da Boa Vontade e o Parlamento Mundial da Fraternidade Ecumênica], que já visitei e é um local muito lindo —, no qual diz assim Renato Russo [1960-1996]: “Muitos temores nascem do cansaço e da solidão”. É comum que parte da nossa angústia venha desse sentimento de não nos sentirmos compreendidos por nossos parentes, amigos... Além disso, o ser solitário foi ampliado no mundo em que as pessoas estão divididas e polarizadas politicamente, digladiando-se entre famílias e amigos; e porque a gente também vive a expectativa de que a felicidade está no post que o outro colocou nas redes sociais; a solidão dá a infantilidade de querermos pessoas que apenas concordem conosco e nunca discordem de nós.

O EIXO AGLUTINADOR PARA LIDAR COM AS DIFERENÇAS 

Abordar a saúde emocional é falar de uma Alma que se reconhece eterna e que existe um Criador. Se o mundo está dividido, se os indivíduos estão se sentindo sós, Deus é o Amor, o eixo aglutinador de nossos desejos e intenções, em busca de nos tornarmos maduros, entendendo a capacidade de se congraçar com o outro, ao aceitar as diferenças, essa forma única que cada um tem, cada espaço sagrado tem de manifestar, como vocês [da LBV] muito bem colocam em Ecumenismo e Fraternidade. Mas existe um problema hoje exatamente porque um grupo significativo de seres humanos acredita piamente que não temos espaço para esse encontro. Temem que isso seja uma espécie de diluição das fronteiras de suas identidades. Eles têm medo, acreditam que isso é uma ameaça ao seu modo de crer, de pensar, e nunca é isso. A maior ameaça à nossa sociedade é a incapacidade de convivência com a diferença, essa incapacidade de diálogo; e o que mais tem tirado a nossa saúde emocional e gerado ansiedade, angústia e medo é esse divisionismo absoluto e absurdo em que as pessoas têm que pensar exatamente igual a elas, senão são contra elas (...). A busca do bem-estar emocional pela Espiritualidade significa encontrar no outro um Irmão que me é igual, mas que pode, mesmo em sua igualdade, manifestar-se de maneira particular e única. (...) Eu preciso entender que esse Deus que nos criou quis a diversidade, porque, se Ele quisesse todos os termos iguais, teria criado uma floresta de eucalipto clonada, como a gente vê hoje em dia nas estradas do Brasil. Mas Ele criou uma floresta tropical de possibilidades, tamanhos, variedades, cores, climas, temperaturas e frutos diferentes. E a maior ameaça é exatamente nós lutarmos contra a diversidade, que é a Obra de Deus e que espera que possamos nos respeitar em nossas diferenças. Não adianta apenas eu manifestar uma crença, porque isso é tão somente uma adesão a um sistema de crenças, se não converter a minha Alma em novas atitudes (...); cada um desses grandes mensageiros do Pai Celestial nos convida a uma profunda e irreversível transformação pessoal, que nos faça destruir um ego infantil narcísico, que se acha superior aos demais para se tornar um ego humano amoroso, à imagem e semelhança de Deus.

NARCISISMO E REDES SOCIAIS

A internet é, inclusive pesquisas mostram isso, um dos ambientes de baixa empatia. As pessoas, muitas vezes, dizem ou fazem coisas que, olhando para você, não fariam. Estudos dos últimos 10 anos apontam que houve um crescimento do narcisismo, na ordem de quase 50%, e um decréscimo da empatia, na ordem de 40%. No entanto, não nos cabe aqui demonizar as redes sociais, porque, afinal de contas, eu estou chegando à casa de vocês junto com a LBV por causa do YouTube, por exemplo, que é uma rede social; o que vale aqui é entendermos que é algo novo que estamos utilizando majoritariamente de maneira equivocada, mas também há pessoas que as usam de forma inteligente, e o espírito humano sempre é convidado, quando cria algo novo, a aprender  com os erros e corrigi-los. Para mim, o exemplo emblemático é a bomba atômica que foi jogada em Hiroshima e Nagasaki e que matou em questão de segundos mais de 300 mil japoneses. Depois dessa dor e do aprendizado, anualmente milhões e milhões de Almas humanas são salvas pela radioterapia. A mesma energia nuclear que mata também salva a minha esperança, a minha expectativa, quando ela é bem utilizada. Por já estarmos vendo os efeitos deletérios quando as redes sociais são mal utilizadas, que possamos, então, corrigir os rumos, criar legislações específicas para que consigamos, de certa forma, educar aqueles que não sabem usá-las e, em casos extremos, punir aqueles que estão perversamente lidando com elas, para que haja uma vivência saudável nesse instrumento tão fantástico.

 

NARCISISMO II

Primeiro é necessário entender que narcisismo não é amor-próprio, e sim uma forma infantil, patológica, de se enxergar e se entender. Precisamos educar os nossos filhos para que eles não se sintam melhores nem piores que ninguém, para que se sintam humanos e aprendam que a única maneira de viver respeitosamente é fazendo isso aos demais. Quando você pensa no ambiente psicológico de um narcisista, é muito infantil e doído. As pessoas que são assim sempre estão precisando provar algo a alguém, nunca estão satisfeitas, porque nada é suficiente. Um indivíduo maduro segue o seu caminho a despeito do que os outros digam ou falem dele, se tem consciência pessoal de que está fazendo a melhor versão que pode ter dele naquele momento. Nesse sentido, ser narcisista é estar em sofrimento emocional. Já uma pessoa mais humanizada, humilde e empática encontra equilíbrio emocional. Faça a sua escolha!

SEGURANÇA PSICOLÓGICA NO CONTEXTO DAS EMPRESAS

Na verdade, as empresas perceberam que são muito responsáveis, ou pela saúde emocional ou pela falta de atenção a isso. Elas entenderam que o modelo “comando e controle” – “manda quem pode, obedece quem tem juízo” – se esgotou. As pessoas estão cada vez menos sujeitas a submeter-se a um tipo de ambiente tóxico nas organizações. Tem havido no momento, no mundo, um grande movimento chamado “a grande deserção”, em que milhares de trabalhadores diariamente deixam empregos para ficar em casa e se virar, fazendo qualquer coisa só para sair de ambientes tóxicos. (...) Grandes corporações começaram a adoecer por causa das cobranças e da forma completamente equivocada como se construiu um ambiente de serviço. Então, hoje há uma revisão disso. A própria pandemia mostrou para muita gente que nós temos um ambiente bastante híbrido na maneira de construir a sociedade e o mundo do trabalho. Também repercutiu nessa busca de termos, já que muitos de nós passamos mais tempo no trabalho do que em casa; então que esse tempo seja saudável, bom para mim, bom para todos, para a empresa e para a sociedade de um modo geral. Por isso, há uma profunda responsabilização das corporações com relação à saúde emocional e física daqueles que colaboram com ela.

SOCIEDADE CONSUMISTA E SENTIMENTO DE NÃO PERTENCIMENTO

A gente percebe que, sem sombra de dúvidas, essa sociedade consumista, cheia de modelos e padrões a serem seguidos para nos sentirmos aceitos, provoca um sentimento profundo de não pertencimento quando a pessoa não consegue comprar os tickets de ascensão social, gerando uma dor profunda. A maturidade não vem com o tempo. Ela é uma escolha, porque existem pessoas de 60 anos completamente imaturas e outras de 25 completamente maduras. Quando escolhemos amadurecer, olhamos para esses padrões e dizemos assim: “Não preciso deles, eles não vão pautar a minha vida, nem minha felicidade, nem meus valores, eu me reconheço, me valido independentemente dos outros me darem ou não carimbo de aceitação social”. E passo a conviver com pessoas lúcidas e despertas. Então, basicamente quero dizer com isso que, enquanto a sociedade não muda o seu modelo de consumo materialista, precisamos fazer uma mudança para que tudo o que é externo ao indivíduo impacte menos. A atualidade é muito mais individual e autorregulada do que apoiada e regulada externamente.

SINAIS DE ALERTA PARA NÃO PERDER O CONTROLE

Quando você sente que com os recursos que têm não está dando conta de enfrentar e resolver os problemas comuns que chegam à sua vida, isso é um alerta para todos nós. Usando um caso recente, por exemplo, o do Will Smith, aquele comportamento não expressa   padrão de conduta dele, porque não é um homem que todo ano é flagrado dando tapa em alguém. Aquele foi um lamentável episódio na vida dele em que não conseguiu se conter diante de um evento. Ao nos conhecermos, podemos identificar o momento em que não estamos conseguindo reagir a contento diante de certas circunstâncias. Nessa hora, eu primeiro busco amigos, aconselhamento espiritual e, quando necessário, tratamento psicológico. Além disso, se precisar, e não há problema nisso, existem medicamentos para que se recupere o mínimo de estabilidade emocional, a fim de enfrentar variadas dificuldades. Ao acordar de manhã e fazer uma prece, uma oração, uma reza, pedimos que o dia seja o melhor possível. Na verdade, talvez o pedido ideal deva ser que, independentemente de como ele transcorra, eu tenha capacidade de navegar nele. É mais fácil pedir que não tenha ondas, mas é mais racional solicitar que “me dê capacidade de navegar”, não importando o tamanho das ondas. E isso tem a ver com a capacidade de se conhecer para que a gente possa, ao perceber que perdeu o controle, ter a humildade – essa é a palavra-chave de buscar ajuda, porque ela existe.

 

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*Vale dizer que a atividade faz parte de uma série de outras do gênero realizadaspelo FMEC — LBV, com o objetivo de incentivar o diálogo fraterno e ecumênico entre as diversas áreas do saber acerca de assuntos relevantes para a humanidade. A seguir, os principais trechos  desse bate-papo, transmitido pelo canal do fórum pelo YouTube (www.youtube.com/forumespiritoeciencia). Para outras informações sobre o FMEC — LBV, acesse também www. forumespiritoeciencia.