Psiquiatra explora relação mente-cérebro e experiências espirituais
O prof. dr. Alexander Moreira-Almeida discursou no terceiro e último ciclo de palestras do evento.
Nathan Rodrigues
18/10/2019 às 19h57 - sexta-feira | Atualizado em 21/10/2019 às 17h32
O prof. dr. Alexander Moreira-Almeida, professor de Psiquiatria da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), fundador e diretor do Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde (Nupes), palestrou, na tarde desta sexta-feira, 18, no terceiro e último ciclo de palestras do Congresso temático do Fórum Mundial Espírito e Ciência, da LBV.
Na oportunidade, coordenador das seções em Espiritualidade e Psiquiatria da Associação Mundial de Psiquiatria e da Associação Brasileira de Psiquiatria discursou sobre o tema: “Experiência espiritual e a relação mente-cérebro”.
"Tudo o que somos não é nada mais que a atividade de nosso cérebro", comentou.
No início de sua palestra, o prof. dr. Alexander explicou que a relação mente-cérebro parte de duas posições: uma análise dualista, enxergando mente e cérebro como coisas distintas; e uma monista materialista, reducionista, em que a mente é um produto da atividade cerebral.
Nesta primeira interpretação, explica, o cérebro é um filtro, tendo uma função transmissiva. É um órgão responsável por limitar e determinar uma certa forma de consciência produzida em outro lugar.
DESCARTE CIENTÍFICO
Em relação à segunda interpretação, o professor de Psiquiatria da UFJF acredita que ela leva a uma série de distorções acadêmicas.
"Uma visão diferente dessa materialista é prontamente descartada [por quem aceita essa visão]. Na verdade, essa é uma hipótese dentre muitas", destaca.
E este eterno retorno ao materialismo, enfatiza o palestrante, cria, consequentemente, padrões recorrentes de explicações materialistas.
"Não preciso me comprometer dogmaticamente, negando um fenômeno que precisa ser estudado", afirma.
EXPERIÊCIAS RELIGIOSAS E ESPIRITUAIS
Estes fenômenos referem-se às experiências religiosas e espirituais. Ao tratar das Experiências de Quase Morte (EQMs), o dr. Alexander afirmou que a leitura materialista da relação mente-cérebro costuma desqualificá-las.
"As EQMs, nessa visão materialista e reducionista, são vistas como alucinações. São entendidas como problemas perceptuais, distorções cognitivas e frutos de uma construção sociocultural."
Por conta disso, comenta o fundador e diretor do Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde (Nupes), essa é uma área de investigação negligenciada, embora possam auxiliar na compreensão da mente e de sua relação com o corpo.
"Elas sugerem uma independência da mente, são estados anômalos de consciência. Em casos de paradas cardíacas, o cérebro deixa de funcionar. No entanto, pessoas narram fatos e dizem que a mente nunca ficou tão clara quanto naquele momento", ressalta.
E completa: "Estamos muito longe de saber sobre tudo o que acontece no universo. É preciso humildade intelectual".
MUDANÇA DE MENTALIDADE
Ainda assim, mesmo nesse terreno materialista, o dr. Alexander apresentou à plateia uma lista de cientistas premiados que se propuseram a estudar as EQMs.
"Identificamos quase dois mil artigos publicados sobre esse assunto em revistas privilegiadas, desde os anos de 1980."
Este mesmo empenho em estudar as Experiências de Quase Morte também se verificou no estudo de outras experiências mediúnicas, como as cartas psicografadas pelo médium Chico Xavier, saudoso Legionário da Boa Vontade de Deus.
Segundo ele, a análise atestou muitas informações contidas nas cartas, que o próprio sensitivo não teria acesso.
Outros fenômenos espirituais, como memórias de vidas passadas e percepções extrasensoriais, também têm chamado a atenção de uma parte da área científica.
SOBRE O FÓRUM MUNDIAL ESPÍRITO E CIÊNCIA, DA LBV
Criado em 2000 pelo diretor-presidente da Legião da Boa Vontade, o jornalista e escritor José de Paiva Netto, o Fórum Mundial Espírito e Ciência, da LBV, visa estimular a implementação de propostas no campo pragmático das realizações da sociedade civil, trazendo as contribuições das diversas áreas do saber espiritual e humano para a construção de uma sociedade mais solidária, altruística e ecumênica.