Pelo bem comum
Como as tecnologias digitais potencializam as atividades da LBV e o empoderamento feminino
Leila Marco
05/03/2018 às 17h04 - segunda-feira | Atualizado em 07/03/2018 às 20h29
As Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) estão cada dia mais presentes no cotidiano das organizações do Terceiro Setor, sendo fortes aliadas no combate à pobreza e na luta pela equidade de gêneros. Essas inovações têm incrementado o trabalho da Legião da Boa Vontade de sete países: Argentina, Bolívia, Brasil, Estados Unidos, Paraguai, Portugal e Uruguai; tornando acessíveis em ambientes virtuais informações, documentos, orientações e diretrizes.
Em janeiro de 2018, a Instituição ganhou grande reforço para uma atuação ainda mais estratégica: um novo sistema de gestão social, desenvolvido com tecnologia de ponta e que pode ser acessado em diversos dispositivos (computadores, tablets e smartphones), facilitando a inclusão de dados. A elaboração desse projeto levou cerca de dois anos (desde a concepção até a fase de testes).
Segundo o gerente de Sistemas Corporativos da Legião da Boa Vontade, Erival Teixeira, o processamento dos dados por meio desse novo sistema viabiliza fazer um diagnóstico mais preciso e completo de todas as unidades de atendimento da LBV e do perfil socioeconômico dos assistidos pela Obra.
O resultado é a maior agilidade na identificação de soluções para atender às demandas das comunidades. “Nós conversamos com educadores, gestores e assistentes sociais. Entendemos a dinâmica do trabalho deles para poder, a partir da experiência do sistema anterior, incorporar visões de Business Intelligence, que permite dados estatísticos, indicadores de qualidade e quantitativos das atividades executadas na Instituição”, declarou.
Regina do Nascimento, gerente de Inovação Social da LBV, afirmou que o intuito da Organização, com essa iniciativa, é aprimorar os resultados efetivos com as famílias socialmente vulneráveis, tornando-as mais fortalecidas para lidar com as crises e os eventos estressantes do cotidiano e vencê-los. “A LBV é uma instituição que educa com Espiritualidade Ecumênica. Nós olhamos para o indivíduo e investimos tudo o que é possível para entender a situação dele e fazer com que melhore de vida, desperte capacidades e potencialidades. Enxergamos no ser humano além do que é visível, do que a renda indica ou da situação de violência que, de repente, esteja passando.”
Análise de dados para atuação preventiva
Esse sistema amplia consideravelmente a base de informações detalhadas, permitindo extrair critérios de vulnerabilidade socioeconômica, entre os quais renda, escolaridade e moradia (se situada em locais vulneráveis) ou com acesso a serviços públicos precários, especialmente os de saúde, educação e assistência social. “É uma inteligência voltada a entender a realidade e as principais necessidades das pessoas que são amparadas pela LBV, a fim de que se pensem novos programas, ações preventivas, encaminhamentos”, explicou Regina.
Por essas razões, a gerente de Inovação Social da LBV não tem dúvidas de que a ferramenta significa uma importante colaboração para o avanço do empoderamento da mulher. “O público feminino é o maior em nossos programas socioeducacionais. (...) As mulheres acompanham mais os seus filhos nas atividades e são um público que permite fácil acesso em caso de qualquer intervenção, porque buscam ajuda. Automaticamente, são as que, ao estar mais bem instruídas, não só superam as situações familiares, mas também contribuem ao ter uma nova visão do que pode ser implementado na própria comunidade onde vivem”, salientou.
Esse novo sistema de gestão social também beneficiará as organizações parceiras da LBV, participantes do programa Rede Sociedade Solidária. A iniciativa tem como objetivo a formação cidadã de lideranças comunitárias, cuja maioria é representada por mulheres negras de idade avançada e sem curso superior, que há muito tempo se dedicam à melhoria do bairro em que residem. Isso ampliará ainda mais o raio de atuação desse serviço. Basta ver que, somente em 2017, mais de 29 mil famílias brasileiras foram impactadas pelo programa da Rede.
Esses avanços refletem também a visão do dirigente da Instituição, José de Paiva Netto, que aposta na tecnologia como aliada para potencializar resultados em favor da coletividade. Tanto que foi pioneiro ao trazer a informatização para o Terceiro Setor, quando, em 1983, trouxe a novidade para toda a LBV, pondo recursos técnicos a serviço da expansão dos ideais fraternos.
Tecnologia acelerando a aprendizagem
O uso de meios tecnológicos para motivar e mobilizar os atendidos nas escolas e nos Centros Comunitários de Assistência Social da Legião da Boa Vontade é uma realidade. Bom exemplo dessa combinação, que ajuda na aprendizagem, ocorre na LBV do Uruguai. Graças à parceria com o Plano Ceibal (Conectividade Educativa de Informática Básica para o Aprendizado On-line), do governo uruguaio, a Instituição disponibiliza um computador portátil conectado à internet a cada aluno do curso de cabeleireiro oferecido pelo Instituto Educacional e Cultural José de Paiva Netto, em Montevidéu, capital daquele país.
Essa é uma das estratégias encontradas pelos educadores para fortalecer a aprendizagem. De acordo com a professora Teresita Ruggiero, bacharela na área de beleza pela Universidade do Trabalho do Uruguai (UTU), para evitar a dispersão do grupo na classe é preciso criatividade na exploração de novos saberes. “O laptop é uma ferramenta muito útil. Com ele, podemos pesquisar as tendências, penteados, cortes de cabelo, [tipos de] maquiagem, tudo relacionado ao curso”, ressaltou.
A participação ativa do aluno no processo de construção do conhecimento empolga quem faz parte da iniciativa. É o caso de Yuliana García, de 17 anos, que elogiou a prática. Para ela, a aula assim fica mais divertida. “É muito bom. A professora nos explica sobre alguma técnica ou dá alguma informação e, imediatamente, nos pede para usar o laptop, a fim de que possamos ver mais informações sobre o que se está falando.”
Apesar de ainda não ter finalizado o citado curso na LBV, Yuliana já conseguiu emprego em um salão de beleza na cidade. Mãe solteira de um bebê de 10 meses, a jovem mora com a mãe e um irmão, mas acredita que, com o apoio da Instituição, em breve conquistará outras oportunidades de qualificação e aumentará os próprios rendimentos. “A ideia é tornar-me independente e viver sozinha com meu filho. Pouco a pouco — e graças à Legião da Boa Vontade —, estou conseguindo isso”, disse.
Mídias sociais no apoio às vítimas dos furacões Harvey e Irma
Em setembro de 2017, outro expediente virtual permitiu encurtar caminhos e ligar pessoas solidárias a quem sofreu com a destruição ocasionada pelos furacões Harvey e Irma em cidades norte-americanas. A Legião da Boa Vontade dos Estados Unidos, por meio de sua página no Facebook, mobilizou comunidades de Nova York e de Nova Jersey para arrecadar material escolar e, dessa maneira, ajudar muitas crianças em situação de vulnerabilidade social a retomar a vida normal.
As doações foram distribuídas entre meninas e meninos carentes de Houston, no Texas, e de Immokalee, no Condado de Collier, na Flórida, que padeceram com os efeitos das tempestades e se encontravam no início do ano letivo naquele país. Sobre esse auxílio, a vice-diretora do Eden Park Elementary School, na Flórida, Kate Drilling, assim se expressou: “Não poderíamos estar mais agradecidos por toda a ajuda e por todo o apoio da LBV”. Segundo ela, os alunos vêm de famílias em situação de vulnerabilidade social, o que agravou ainda mais os efeitos da tempestade sentidos por essa população.
Ajuda chega a Porto Rico
As redes sociais também foram imprescindíveis durante a campanha Disaster Relief (SOS Calamidades, em português), realizada pela Legião da Boa Vontade dos Estados Unidos. O objetivo da ação foi amparar desabrigados em Porto Rico, Estado associado aos EUA, após o furacão Maria, o mais forte nos últimos noventa anos, que atingiu a ilha em 20 de setembro do ano passado.
Os donativos arrecadados por meio dessa mobilização solidária seguiram em dezembro para a localidade, a fim de socorrer a população, que ainda sofria muito com os efeitos da catástrofe natural. Na data, quase um terço do território porto-riquenho estava sem eletricidade, e 500 pessoas continuavam em abrigos. Foi esse cenário, de total falta de infraestrutura, que a equipe da Instituição encontrou ao chegar à ilha do Caribe, com 10 toneladas de suprimentos (água, alimentos, produtos de higiene pessoal e artigos de primeiros socorros).
A entrega dos itens ocorreu, em 12 e 13 de dezembro, a moradores da região de Mariana, Tejas e Mambiche, em Humacao, a cerca de 60 quilômetros da capital, San Juan. Ao todo, mais de 1.500 famílias foram assistidas por intermédio dessa ação fraterna.
Todo esse trabalho foi possível graças à parceria da Legião da Boa Vontade com organizações humanitárias locais e norte-americanas, com voluntários de Nova York e de Nova Jersey e com a companhia aérea JetBlue, que se solidarizou com o padecimento do povo de Porto Rico e colaborou para o sucesso da campanha transportando os voluntários e o material angariado (a exemplo do que já havia feito no atendimento da Instituição nos Estados do Texas e da Flórida, nos EUA). A iniciativa teve ainda o apoio do Exército local, que cedeu um caminhão à equipe de voluntários da LBV para levar doações a pessoas que não haviam recebido nenhum tipo de auxílio até aquele momento.
Tecnologia social e empreendedorismo feminino
Há trinta e dois anos, a Legião da Boa Vontade da Bolívia mantém diversas ações socioeducacionais que melhoram a qualidade de vida da população. Exemplo disso é o programa Ronda da Caridade, por meio do qual ampara famílias em situação de vulnerabilidade social, em El Alto, cidade que enfrenta graves problemas sociais e econômicos.
A diarista Luisa Choque, de 35 anos, é uma das beneficiadas com a iniciativa. Os seus seis filhos ganham roupas e almoçam todos os dias no refeitório mantido pela Instituição na localidade, o que permite a essa mãe atender às necessidades básicas de suas crianças. “Agradeço à LBV. Graças a ela, meus filhos têm comida e se vestem”, ressaltou.
Segundo Luisa, esse importante apoio a fez suplantar vários obstáculos e a acreditar mais nela própria. Por isso, há dois anos, tornou-se voluntária nas atividades da Organização e retribui, com muita satisfação, o que recebe. “Pela manhã, eu ajudo aqui. Depois, a partir de uma hora da tarde, vou trabalhar para o meu sustento. Estou muito feliz!”
Ela ainda participa de outro programa da LBV: o de Capacitação e Inclusão Produtiva, que ministra cursos voltados ao empreendedorismo sustentável e à geração de renda. “Peço que as pessoas colaborem com a [LBV] para que ela continue a nos ajudar.”
Nessas oficinas, a equipe da Instituição ensina as mulheres da comunidade a produzir vassouras ecológicas, usando garrafas PET, e a confeccionar tapetes e enfeites de materiais reciclados, além de ensinar técnicas de crochê e tricô. Com a venda das peças artesanais, elas complementam o orçamento familiar.