Geração 4.0

Quais serão as consequências da Quarta Revolução Industrial nas escolas?

Arnaldo Niskier

30/04/2018 às 15h15 - segunda-feira | Atualizado em 02/05/2018 às 13h07

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ARNALDO NISKIER, doutor em Educação, formado em Matemática e em Pedagogia, é membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), professor Honoris Causa da Universidade do Rio de Janeiro (Unirio) e presidente do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE-RJ).

Nos países desenvolvidos, fala-se hoje em Quarta Revolução Industrial (4.0). São novas tecnologias que integrarão os domínios físicos, digitais e biológicos, o que naturalmente irá modificar o panorama das escolas em todos os graus. O que acontecerá na escola de 2019 só Deus sabe.

Conversei com a minha neta Paula Flanzer, que acaba de regressar de uma temporada de seis meses de estudos na Austrália. Voltou empolgada e fez um registro: lá eles se preocupam com a internet das coisas, big data*, hologramas, impressão 3D etc. Também dão um extraordinário valor à remuneração dos professores. Aqui, algumas escolas de vanguarda mandam comprar esses equipamentos, mas em geral descuram do pagamento dos mestres, o que naturalmente é essencial para que os educadores trabalhem em paz e com entusiasmo.

O resultado dessa política equivocada é que estamos vivendo uma crise sem fim na Educação. Não apenas no Ensino Fundamental, no qual conseguimos o milagre da universalização, mas também pecamos em qualidade, a exemplo do que ocorre nos demais graus e, de forma escandalosa, no Ensino Médio. A prova disso é que, nos exames do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), ficamos nos últimos lugares, inclusive em Matemática, matéria em que o Brasil tem condições de se ombrear com as nações mais desenvolvidas do mundo. Por que tudo isso?

Temos mais de dois milhões de jovens entre 15 e 17 anos compondo a trágica geração “nem-nem” (nem estudam nem trabalham). Será que a esperada reforma do Ensino Médio corrigirá essa vergonha? Fica evidente que não dispomos de um projeto vigoroso de aperfeiçoamento da formação do magistério. Sem bons professores não se chegará a lugar nenhum — e isso depende também de salários compatíveis. Não sentimos nenhum movimento adequado de correção de rumos.

A reforma do Ensino Médio foi aprovada no ano passado no Congresso Nacional, e a Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio parece ter empacado no Conselho Nacional de Educação (CNE). Tudo é difícil quando se trata de dar agilidade às providências necessárias.

Enquanto declina a oferta de tempo integral em nossos estabelecimentos de ensino, não se sente um movimento revolucionário para corrigir a reconhecida falta de laboratórios de ciências. Cerca de 55% das escolas no Ensino Médio não dispõem desse recurso, o que mostra o relevo dessa carência.

Temos 40 mil escolas públicas no país, com as deficiências conhecidas. Cerca de 20% não dispõem de internet banda larga, e, segundo o Censo Escolar 2017, 10% não têm abastecimento regular de água. Como sobreviver dessa forma? Pode-se pensar nas consequências negativas desse fato.

É claro que tentar equacionar a educação profissional diante desse panorama é quase um exercício improvável, num sistema com tamanhas carências.
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* Big data — É um termo que se refere a um grande conjunto de dados armazenados, com os quais aplicativos de processamento de dados tradicionais ainda não conseguem lidar.