Uma geração que pede socorro

A taxa de suicídio cresce mais entre crianças e jovens, e você pode ser determinante para salvar a vida deles

Wellington Carvalho de Souza

04/10/2018 às 14h53 - quinta-feira | Atualizado em 04/10/2018 às 18h51

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Há quem considere que as crianças e os jovens sejam invulneráveis ao sofrimento. Mas o desencanto pela vida tem sido cada vez mais frequente entre as novas gerações, condição perigosa que as tem levado a atentar contra a própria existência. Só para se ter uma ideia da dimensão deste desafio: segundo dados do Sistema Único de Saúde (SUS), os casos de suicídio subiram 12% nos últimos cinco anos no Brasil. Na faixa etária dos 10 aos 19 anos, a incidência aumentou 18%.

A partir da análise de minucioso levantamento da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), é possível perceber o tamanho real dessa verdadeira tragédia de saúde pública. Entre 1980 e 2012, as taxas de suicídio no país cresceram 62,5% na população em geral. A situação apresenta-se de maneira mais acentuada entre os jovens de 15 a 29 anos: de 2002 a 2014, a ocorrência dos que tiraram a própria vida foi de 5,1 para 5,6 mortes a cada 100 mil indivíduos — um aumento de quase 10% em apenas 12 anos.

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Muito além desses preocupantes alertas, há estudos que ponderam que esses números podem ser ainda maiores, já que nem  todas as mortes por suicídio são contabilizadas como tal. Há décadas, a Legião da Boa Vontade encara com seriedade o tema, sem preconceitos e tabus, esclarecendo as pessoas sobre as consequências materiais e principalmente espirituais sobre quem comete esse triste ato e promovendo ações de prevenção ao suicídio.

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Gatilhos perigosos como porta de entrada
O assunto é complexo e nem sempre é possível apontar aquele ou este motivo como preponderante para que alguém decida suicidar-se. Mas estudos sobre o tema conduzidos em diversos países revelam que entre 10% e 15% dos que se encontram na juventude enfrentam quadros depressivos. A doença emocional, que favorece a ideação suicida, associada à pouca estrutura emocional no enfrentamento de problemas e à ausência de perspectiva quanto ao futuro, constitui uma das razões principais.

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Pós-doutora pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em prevenção ao suicídio, a dra. Karina Okajima Fukumitsu explica que não existe uma única causa para que alguém pratique esse ato. “A solidão e o isolamento propiciados pelo avanço tecnológico; a preferência pela interação midiática em detrimento das interações com os outros; a demanda imediatista de suprir as necessidades e, por consequência, dificuldades para tolerar frustrações; as pressões geradas pela competitividade, pelo perfeccionismo; e a necessidade de ser bem-sucedido” são algumas das motivações que podem levar ao desencanto pela vida.

A convivência frequente das pessoas em redes sociais também tem relação com o problema tratado nesta reportagem. Se pensarmos no jovem de décadas atrás, ele até poderia sofrer bullying em determinado ambiente, como a escola ou a faculdade, mas era possível desfrutar de uma trégua em casa. Hoje, por outro lado, ele corre mais risco de estar exposto a conteúdos vexatórios nas 24 horas do dia.

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Além de “facilitarem” a repercussão de ofensas, sem o uso moderado, plataformas como Instagram, Facebook e WhatsApp podem tornar-se meios quase únicos de comunicação para as gerações Y (nascidos entre 1980 e 2000) e Z (nascidos depois de 2000), limitando a capacidade de sociabilidade desses públicos com os demais indivíduos.

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E significativamente a conversa por detrás da tela de um smartphone distingue do bate-papo feito “olho no olho”. De acordo com a dra. Karina, “a diferença se encontra quando percebemos que em situações de conflitos, no tête-à-tête, a pessoa exercita esforço hercúleo para manejar decepções e frustrações. Na rede social, bastará um ‘excluir’ dos contatos, e, com apenas um toque, quem a frustrou será bloqueado, dando a falsa sensação de que o sofrimento pode ser solucionado de maneira instantânea. Porém, o sofrimento continuará apesar da ‘fuga’ criada para manejar conflitos e crises inter-relacionais”. O desdobramento dessa situação, mais cedo ou mais tarde, pode ser doloroso:  “A vulnerabilidade e a fragilidade humanas são desviadas da constatação da realidade. Consequentemente, o sofrimento existencial e os sentimentos inóspitos não são acolhidos”.

Segundo ela, “os jogos também são aspectos para os quais devemos direcionar nossa atenção, pois muitos deles endossam que se morre ‘de mentira’, e alguns dos personagens morrem, matam e ainda se tornam mais fortes”, detalha a especialista. Games com essa temática existem aos milhares, além dos desafios on-line que têm surgido frequentemente.

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Viver versus conviver
Contra tantas armadilhas como as citadas, pesquisadores em suicidologia são praticamente unânimes em concordar: a relação sadia entre a criança ou jovem com seus entes queridos reduz as possibilidades de que ele se mate. Mas, infelizmente, essa interação nem sempre ocorre.

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Contribuindo com o assunto, a terapeuta e coach familiar Valéria Ribeiro sinaliza: “Hoje, os pais trabalham muito e, tantas vezes, não estão atentos ao que está acontecendo com seu filho. Não percebem que ele pode estar enfrentando algum problema, algo que está lhe causando uma dor muito intensa. [Atualmente,] A gente apenas vive dentro de casa, mas não convive. O conviver significa olhar para o outro, prestar atenção na necessidade dele, se ele teve alguma mudança que não é do seu padrão usual”.

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Valéria esclarece que, sem qualquer tom de julgamento ou coação, os pais devem manter um “diálogo [com o filho] e não ter medo de falar sobre esse assunto [o suicídio]. [É importante] Perguntar para ele: ‘O que você pensa sobre isso?’ (...) e, principalmente, se colocar ao lado desse jovem, dizendo: ‘Eu estou com você e vou ajudá-lo’”.

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Portanto, o recado maior é este: “A pessoa em crise suicida necessita de amparo. E, quando as famílias apresentam disponibilidade, afetividade e acolhimento ao sofrimento do jovem, podem tornar-se a rede de apoio necessária, pois é na intervenção sistêmica que a prevenção ao suicídio poderá ocorrer”, conclui a dra. Karina Fukumitsu.

As Instituições da Boa Vontade utilizam, há 70 anos, os veículos de comunicação para levar mensagens de conforto e esclarecimento espiritual, pela valorização da vida. Com a disseminação do acesso à internet, diversos conteúdos que tratam da prevenção ao suicídio estão disponíveis (em sete idiomas). Esses vídeos e artigos têm sido os mais procurados pelos internautas via buscadores, e muitos deles desejam a conversa imediata com os pregadores ecumênicos da Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo (que recomendam o necessário tratamento médico e apresentam o esclarecimento espiritual). Do perfil do público que mais chega ao chat da Religião Divina pedindo socorro, os pré-adolescentes e adolescentes (entre 13 e 22 anos) representam 52% do total.

 

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PAIVA NETTO ESCREVE:

Pegar do tormento e alavancar a coragem

José de Paiva Netto é escritor, jornalista, radialista, compositor e poeta. É diretor-presidente da Legião da Boa Vontade.

Em Jesus, a Dor e a origem de Sua Autoridade — O Poder do Cristo em nós (2014), destaquei que, ao escrever esse livro, meu intuito foi o de mostrar aos prezados leitores que a Dor nos fortalece e nos instrui a vencer todos os obstáculos, por piores que sejam. Por isso, suicidar-se é um tremendo engano. É necessário saber conviver com a Dor e, com obstinação, sobrepujá-la. Para tanto, faz-se urgente conhecer e viver a Excelsa Lei, que rege os mundos, do micro ao macrocosmo, expressa no Mandamento Novo do Jesus Ecumê­nico: “Amai-vos como Eu vos amei. Somente assim podereis ser reconhecidos como meus discípulos. (...) Não há maior Amor do que doar a própria vida pelos seus amigos” (Evangelho, segundo João, 13:34 e 35; e 15:13). Essa é a forma de nos capacitarmos para pegar até do tormento e, com ele, alavancar a coragem.

Minha Irmã, meu Irmão, respeitosamente dedico a todos vocês este pensamento: A vida continua sempre, e lutar por ela vale a pena. Ainda que se apresente a escuridão da noite, o Sol nascerá no horizonte, derrotando as trevas e trazendo a claridade aos corações. Por isso, proclamamos: o grande segredo da vida é, amando a vida, saber preparar-se para a morte, ou Vida Eterna. Ressalte-se: o falecimento deve ocorrer somente na hora certa determinada por Deus.

Se passarmos os olhos ao nosso redor, veremos que existem seres humanos e até mesmo animais em situação mais dolorosa que a nossa, precisando que lhes seja estendida mão amiga. Não devemos perder a oportunidade de ajudar. Àquele que auxilia jamais faltará o amparo bendito que lhe possa curar as feridas.

Viver é melhor!

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*Este conteúdo consta na revista BOA VONTADE nº 246, de setembro de 2018. Para obter seu exemplar digital, baixe o aplicativo BOA VONTADE Magazine, disponível gratuitamente na Google Play e na App Store.