MPB em Pauta

Novo álbum de Ivan Lins e Gilson Peranzzetta representa a parceria, a amizade e o talento musical.

Hilton Abi-Rihan

05/10/2018 às 19h12 - sexta-feira | Atualizado em 09/10/2018 às 20h09

Divulgação/Márcia Moreira

Esta é uma das edições do programa Samba & História, da Boa Vontade TV, cuja resenha para esta revista mais gostei de fazer, não apenas pela oportunidade de entrevistar dois grandes nomes da Música Popular Brasileira (MPB), mas por ter encontrado nestes profissionais exemplo de notável parceria e amizade.  O bate-papo com eles ocorreu pouco antes de Ivan Lins e Gilson Peranzzetta pisarem no palco do Teatro Rival Petrobras, no Rio de Janeiro/RJ, em 29 de agosto de 2018, para lançar o CD Cumplicidade, título também do referido show.

A apresentação de ambos dispensa longos comentários. Cantor e pianista, Ivan é igualmente reconhecido como importante compositor popular no Brasil e no exterior; já Peranzzetta destaca-se como exímio pianista, compositor e arranjador. Desde 1974, mantêm um trabalho quase indissociável, com muitas composições de sucesso nascidas de sua lavra.

Bruna de Jesus
Com Ivan Lins na voz e no teclado, acompanhado pelo pianista e maestro Gilson Peranzzetta, no piano acústico e arranjos, o show traz no repertório 12 canções.

Sobre o novo disco, eles esclarecem que não há pretensão de trazer novidades, mas de celebrar com os fãs o encontro e a afinidade musical da dupla. Desfilam nele canções autorais como Love Dance e Setembro, que se tornaram sucessos mundiais, e composições famosas do cantor, repaginadas por Gilson, entre as quais Abre alas (1974), Antes que seja tarde (1979), Lua soberana (1992) e Lembra de mim (1995), com letras de Vitor Martins.

Eles explicaram que o embrião do projeto surgiu a partir de um concerto que fizeram, em 2008, no Konserttitalo Martinus, em Vantaa, Finlândia. “Esse show duo, piano e teclado, foi incrível, tudo gravado ao vivo, e a fita [com a gravação dele] é espetacular. [Então, pensamos que tínhamos de] mostrar isso no Brasil”, recordou Ivan. No entanto, a ideia só realmente se concretizou no início de 2017, quando Valéria Lins, esposa do cantor, sugeriu que gravassem um CD para celebrar a amizade de uma das mais expressivas e fecundas parcerias da MPB. A experiência vivida em 2008 foi a inspiração para o álbum e para as apresentações atuais. “Ficamos muito livres no palco, a gente inventa na hora. As pessoas cantam no espetáculo, o que é bom, tem a participação do público. Mostramos o virtuosismo dele como pianista, porque é um pianista fantástico, impressionante, e o meu, do compositor que vos fala, que dou as minhas cacetadas (risos)”, disse o cantor.

Essa total harmonia se explica pelo tempo que são amigos: já se vão mais de 45 anos, ou, como destacam os dois, desde que eram garotos. E o carinho e apoio mútuos ficam evidentes no decorrer da entrevista. Gilson fala da primeira vez que escreveu para orquestra: “Foi no [álbum] Somos todos iguais nessa noite, que gravamos na Odeon. O Ivan abriu essa porta para mim do arranjo, de me interessar pela orquestra; a chave estava com o Ivan, era o São Pedro. Foi um encontro maravilhoso”, relembrou o músico.

Sobre o sentimento de trabalharem juntos por tantos anos, Peranzzetta arremata: “Na verdade, em todo show, a gente se emociona. Nós terminamos a apresentação e nos abraçamos, tem sempre um soluço, uma energia muito forte ali”, concluiu.   

Helen Winkler

 

Tributo a Billy Blanco

Divulgação

Em janeiro de 2006, Gilson Peranzzetta foi convidado pelo compositor Billy Blanco (1924-2010) para orquestrar e reger a Sinfonia do Rio de Janeiro, de Tom Jobim (1927-1994) e Billy Blanco. Além da orquestração e da regência, Peranzzetta compôs para a sinfonia uma nova introdução e todas as ligações entre as canções. O trabalho foi apresentado em memorável espetáculo na Sala Cecília Meirelles, que comemorava, à época, os 80 anos de Billy, com a participação da Orquestra dos Sonhos, regida por Paschoal Perrota (1936-2007), e dos cantores Pery Ribeiro (1937-2012), Leila Pinheiro, Doris Monteiro, Zé Renato, Paulo Marquez e Elza Soares, um time de estrelas.

Carreira internacional

Divulgação

Los Angeles, 1980 | A partir da esquerda: Gilson Peranzzetta, Paulinho e Ivan Lins num dos encontros que tiveram com Quincy Jones.

A trajetória de Ivan Lins atravessa as fronteiras brasileiras. O artista tem músicas regravadas por astros internacionais, como Quincy Jones, George Benson, Ella Fitzgerald (1917-1996), Sarah Vaughan (1924-1990) e Barbra Streisand. Gilson Peranzzetta da mesma forma conquistou espaço no exterior com o seu talento. A composição Setembro, feita em parceria com Ivan, foi incluída na trilha sonora da premiada série norte-americana Dallas e na do filme Boys’n the Hood.

Um dia especial: “Foi lindo, de chorar!”

Cida Linares

Durante o bate-papo, o cantor Ivan Lins rememorou o show Um Natal brasileiro, rea­lizado em 1999, na antiga casa de espetáculos Metropolitan, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro/RJ, no qual apresentou a música Um feliz Natal, com a participação especial do Coral Ecumênico Infantojuvenil Boa Vontade. “Foi lindo, de chorar! Olho cheio de lágrimas. O Natal, para mim, é muito emocionante, me traz muito da minha mãe, do meu pai, que eram entusiastas da data. (...) Eu fiz uma versão da canção do José Feliciano, coloquei a realidade brasileira, para trazer esperança, para que se entenda que o Natal é de Jesus, não de papai-noel. Um Natal de Jesus Cristo, que foi o Grande Filósofo da história do mundo”. Sobre a presença das crianças da LBV, completou: “Quando a gente canta o Natal e tem o coro junto, existe o poder de real­mente chegar ao coração [das pessoas]. (...) Gostaria muito de repetir a dose, seria lindo!”

Vale registrar que, após a entrevista, Ivan Lins fez questão de enviar um abraço fraterno ao dirigente da Instituição, José de Paiva Netto.