Entenda por que matéria também é Espírito
Estudo desenvolvido no Instituto de Estudos e Pesquisas da Ciência da Alma, da Academia Jesus, o Cristo Ecumênico, o Divino Estadista.
Juliano Carvalho Bento
26/08/2019 às 12h12 - segunda-feira | Atualizado em 17/09/2019 às 17h15
No início da década de 1990, o jornalista, radialista e escritor Paiva Netto estampou no título de seu artigo, publicado na imprensa brasileira e mundial, que “matéria também é Espírito”. Em decorrência disso, elaboramos esse estudo para entender a abrangência desse anunciado.
Para isso, vamos voltar no tempo...
Muito provavelmente em algum momento entre os anos 440 e 400 a.C., um jovem, imerso em seus pensamentos, jazia sentado em uma relva na antiga Trácia, sendo assistido somente por pequenos animais campestres curiosos com a cena. A partir de um momento de grande interiorização e extrema contemplação sobre a origem e finitude da vida, estaria a ponto de descobrir, por meio de um grande insight frente à natureza que o abraçava naquele momento, que a matéria teria um componente primordial e elementar que seria a base de tudo.
Entretanto, mesmo defronte a um ambiente bucólico, o pensamento taciturno gerava uma grande angústia antes do êxtase do descobrimento. Esse exato momento de Demócrito seria imortalizado muito posteriormente por Salvador Rosa, em seu quadro Demokritus in Meditation, de 1650, hoje exposto no Statens Museum for Kunst, em Copenhagen, na Dinamarca.
Contudo, por mais crível que possa parecer tal cenário, o conhecimento que temos sobre o “filósofo que ri”, como era chamado por Cícero e Horácio, é praticamente nulo. O pouco que sabemos se deve a citações de filósofos posteriores, já que, dos seus mais de setenta trabalhos, raros fragmentos restaram.
Desses relatos, as poucas informações que detemos é que o pensador nasceu em Abdera, na costa da Grécia, por volta do ano 440-460 a.C., falecendo no ano 370 a. C. Foi pupilo de Leucipo e, posteriormente, professor de Protágoras e outros grandes expoentes, como Nausífanes de Téos, que, por sua vez, foi tutor de Epicuro. Esse último, inclusive, reformulou parte da famosa teoria difundida por Demócrito.
No caso, falamos do atomismo, filosofia natural que defendia primordialmente a existência do átomo (“A” prefixo de negação e “TOMO” divisível) como a primeira partícula fundamental da natureza que, junto com o vazio, era a base e origem de todos os corpos existentes.
Entretanto, embora atribuída a Demócrito, a teoria atomística já era bem estabelecida por seu mestre, além de disseminada em muitas culturas bem antes dos pré-socráticos a estudarem. Existem, inclusive, relatos que o próprio pensador da atomística, teria entrado em contato com antigos astrólogos da Caldéia e até um Mago Persa, que também ensinara acerca da matéria invisível e primordial*.
O que é pouco lembrado, todavia, é que, para Demócrito, literalmente tudo era feito de objetos mínimos e indivisíveis, inclusive a própria Alma e as antigas divindades (no caso esses eram compostos por “átomos esféricos”, já que para o filósofo, existiriam formatos e funções diferentes para as grandes classes de objetos afins na natureza). Por isso, o conceito de matéria era diferente em relação ao que conhecemos hoje.
Presentemente, entretanto, o átomo está longe de ser um objeto indivisível e em nada parecido com o de Demócrito. Aliás, a própria definição de matéria se fundamenta diretamente na atual concepção física do que seriam as partículas atômicas da matéria.
Somente para observarmos o quão complexa é essa definição, vejamos, por exemplo, essa entrada na Encyclopaedia Britannica bem distante de ser um pequeno verbete:
“A matéria, ou substância material que constitui o universo observável, juntamente com a energia, forma a base de todos os fenômenos objetivos.
“No nível mais fundamental, a matéria é composta de partículas elementares, conhecidas como quarks e leptons (classe de partículas elementares que inclui os elétrons). Os quarks se combinam em prótons e nêutrons e, junto com os elétrons, formam átomos dos elementos da tabela periódica, como hidrogênio, oxigênio e ferro. Os átomos podem se combinar ainda mais em moléculas como a molécula de água, H2O. Grandes grupos de átomos ou moléculas, por sua vez, formam a matéria principal da vida cotidiana”.
E continua:
“A teoria da gravitação de Einstein, também conhecida como sua teoria da relatividade geral (1916), toma como postulado central a equivalência experimentalmente observada de massa inercial e massa gravitacional e mostra como a gravidade surge das distorções que a matéria introduz no contínuo espaço-tempo circundante.
“O conceito de matéria é ainda mais complicado pela mecânica quântica, cujas raízes remontam à explicação de Max Planck, em 1900, das propriedades da radiação eletromagnética emitida por um corpo quente. Na visão quântica, as partículas elementares se comportam como pequenas esferas e ondas que se espalham no espaço — um aparente paradoxo que ainda precisa ser totalmente resolvido.
“Uma complexidade adicional no significado da matéria vem de observações astronômicas que começaram na década de 1930 e mostram que uma grande fração do universo consiste em ‘matéria escura’. Esse material invisível não afeta a luz e pode ser detectado apenas por seus efeitos gravitacionais. Sua natureza detalhada ainda não foi determinada.
“Por outro lado, através da busca contemporânea por uma teoria de campo unificado, que colocaria três dos quatro tipos de interações entre partículas elementares (força forte, força fraca e força eletromagnética, excluindo apenas a gravidade) dentro de um único conceito. Nesse contexto, os físicos podem estar prestes a explicar a origem da massa. Embora uma ‘Grand Unified Theory’ (GUT [Teoria da Grande Unificação]) totalmente satisfatória ainda não tenha sido obtida, uma de suas componentes, a teoria eletrofraca de Sheldon Glashow, Abdus Salam e Steven Weinberg (que compartilharam o Prêmio Nobel de Física de 1979 por este trabalho) previram que uma partícula subatômica elementar, conhecida como Bóson de Higgs, transmite massa a todas as partículas elementares conhecidas. Após anos de experimentos usando os mais poderosos aceleradores de partículas disponíveis, os cientistas finalmente anunciaram em 2012 a provável descoberta do bóson de Higgs”.
Ou seja, essa seria a versão mais sucinta, leiga e atual (atualizada em 24 de julho de 2019) sobre o que seria matéria hoje, por uma das mais renomadas enciclopédias mundiais.
O que percebemos é que o termo está longe de ser totalmente definido como algo simples, se confundindo, distorcendo e mudando a cada nova teoria. Além disso, a falta de conhecimento sobre suas diversas facetas, se deve ao fato que estamos vivendo em uma era redefinições com o advento da observação do Bóson de Higgs, a comprovação da matéria escura e a descoberta de novas tecnologias a todo instante.
Ademais, existe toda uma gama de dados ainda não devidamente coletados, relegados a um mundo onde a consciência se conserva e a matéria é moldada para fins morais e éticos. Esse seriam aspectos do Mundo Espiritual. Como explica Paiva Netto, criador do Fórum Mundial Espírito e Ciência, da LBV, a definição de “matéria” necessita de uma reformulação mais abrangente aos dados empíricos já coletados.
Afirma o autor do best-seller “Os mortos não morrem”, em seu mencionado artigo “Matéria também é Espírito”:
“Deus é Espírito, consequentemente Sua Política é espiritual; porquanto, no final do raciocínio filosófico mais apurado, até matéria é Espírito. Qual o seu significado? Da fartamente imaginada como concreta, depois de Einstein (1879-1955), nada restou. O que permaneceu foi a Energia, nome científico do Espírito.
“Há muitas gradações de matéria, algumas das quais ainda imperceptíveis aos sentidos humanos. Existem em outras dimensões. E lá são “matéria”, pois visível aos olhos dos que por suas esferas habitam. Jesus e os Profetas não são vistos por nós. Mas onde vivem?
“Graham Greene (1904-1991), famoso escritor inglês, nas suas meditações concluiu esperançoso: “O nosso mundo (o planeta Terra) não é todo o Universo. Talvez exista um lugar onde Cristo não esteja morto.
“Na nossa dimensão, veja-se o exemplo da luz. Você pode segurá-la com as mãos? De forma alguma! (pelo menos até agora) Mas os seus efeitos são comprováveis, e a sua curvatura no Espaço, atestada pelo famoso cientista judeu-alemão.
“(...) A revolução de Einstein no campo da Física foi nessa mesma direção: E=mc2. A conceituação moderna de matéria é nuclear. A imagem da solidez foi substituída pelo circuito fissão/fusão. A liberação da energia, contida no dinamismo dos núcleos acelerados, passa pelos dedos e escapa às mãos dos que desejariam segurar a matéria, firmados em ultrapassados conceitos do materialismo dialético. Eis uma descoberta científica com sérias consequências morais, como todas o são em profundidade.
“Dentro da relatividade dos conhecimentos terrenos mais avançados, ainda cativos da humilhante pobreza da linguagem humana, podemos afirmar que tudo é “matéria” sem o ser como a Humanidade a vem imaginando, desde que um primata mais ousado levantou os olhos do chão, imprimindo erectilidade à sua coluna recurvada, e elevou seus olhos surpresos ao céu, maravilhando-se com o festival de estrelas que poetizam a magnificência de Deus e a Sua Infinita Misericórdia. Naquele momento, a criatura (matéria ainda bruta), clareada pelo primeiro lampejo de sua inteligência erguida às razões superiores, começou a sua difícil e tortuosa ascensão ao Criador (matéria supinamente quintessenciada). (...)
+ A dimensão espiritual do paciente
“Ela é Sagrada. Mais que isso: Sacratíssima. O mau uso ou a visão enferma que se tem a seu respeito é que está equivocado. Na verdade, não existindo, da maneira como a vinham concebendo em lucubrações terrenas restritas, já faz ver a sua presença verídica na área espiritual, à medida que a compreensão dos homens se ilumina. Graças a Deus, havendo o ser humano começado a perceber a irrealidade da matéria como forma definitiva (E = mc²), ela passará a ser analisada nas regiões da Vida Real.
“Não vemos os Espíritos (Energia libertada) nem podemos tocá-los ainda. Todavia, nas dimensões diversas em que gravitam, os iguais se veem e convivem. Num mesmo ambiente astral, podem estar várias individualidades; contudo, os menos evoluídos só verão os Superiores se estes considerarem útil ao crescimento daqueles”.
Podemos observar que Paiva Netto nos permite desenvolver campos que ainda não desdobramos acerca da matéria. De uma pequena análise, podemos extrair conceitos ímpares que podem explicar não só o universo, mas o MOTIVO desse universo existir. Dentre esses, temos:
→ Deus, o Criador, seria matéria supinamente quintessenciada;
→ Energia (libertada) é o Espírito;
→ Matéria como agente Interdimensional.
Cada um desses tópicos renderia um grande estudo, tal como é fomentado no Instituto de Estudo e Pesquisa da Ciência da Alma, órgão pertencente a Academia Jesus, o Cristo Ecumênico, o Divino Estadista.
Somente para principiarmos essa tese, percebemos que ao se propor a redefinição de matéria como Espírito, surge um caminho que auxiliam conceitos religiosos serem compreendidos pela ciência e vice versa, dentro do atual cenário de discussões do embate ciência e religião (se é que em algum momento ambas estiveram separadas).
O que se faz é necessário é que ambas dialoguem em um espaço proveitoso e objetivo, livre de dogmas sectários de ambas as instâncias. Nisso vemos a necessidade de um intercâmbio e uma revisão metodológica para abarcar também conhecimentos existentes em áreas dispares da ciência. Isso é o que o Fórum Mundial Espírito e Ciência, da LBV, há décadas, propicia, criando um debate sobre a aparente contenda existente na mente de alguns que buscam a todo instante separar a ciência e a religião, sendo uma atitude contraproducente do próprio ponto de vista científico, pois obscurantiza a visão daquilo que todos nós buscamos: a verdade.
Retornando à definição de Deus, como matéria supinamente quintessenciada, podemos entender a partir disso que o próprio bóson de Higgs como a partícula responsável pela a origem da massa nos corpos seria, e agora não jocosamente, a real partícula de Deus. Isso mostra que, no plano espiritual, existe uma reciprocidade entre a “nossa matéria”, nesta faixa mais densa de vibração e frequência, e a deles, separadas, talvez por algum número quântico ainda a ser vislumbrado, ou alguma dimensão paralela (ou ainda “dimensão sobreposta”, como instiga Paiva Netto em suas reflexões espiritual-científicas).
No livro Mecanismos da mediunidade, de André Luiz (Espírito), na psicografia de Chico Xavier, o autor trabalha essa matéria com base no conceito de “matéria mental”, que é definida, assim, como:
“Identificando o Fluido Elementar ou Hálito Divino por base mantenedora de todas as associações da forma nos domínios inumeráveis do Cosmo, do qual conhecemos o elétron como sendo um dos corpúsculos-base, nas organizações e oscilações da matéria, interpretaremos o Universo como um todo de forças dinâmicas, expressando o Pensamento do Criador. E superpondo-se-lhe à grandeza indevassável, encontraremos a matéria mental que nos é própria, em agitação constante, plasmando as criações temporárias, adstritas à nossa necessidade de progresso.
(...)
“Como alicerce vivo de todas as realizações nos planos físico e extrafísico, encontramos o pensamento por agente essencial. Entretanto, ele ainda é matéria – a matéria mental, em que as leis de formação das cargas magnéticas ou dos sistemas atômicos prevalecem sob novo sentido, compondo o maravilhoso mar de energia sutil em que todos nos achamos submersos e no qual surpreendemos elementos que transcendem o sistema periódico dos elementos químicos conhecidos no mundo.
“Temos, ainda aqui, as formações corpusculares, com bases nos sistemas atômicos em diferentes condições vibratórias, considerando os átomos, tanto no plano físico, quanto no plano mental, como associações de cargas positivas e negativas.
“Isso nos compele naturalmente a denominar tais princípios de ‘núcleos, prótons, nêutrons, posítrons, elétrons ou fótons mentais’, em vista da ausência de terminologia analógica para estruturação mais segura de nossos apontamentos”.
Ou seja, trabalhar energia como sendo o Espírito (portanto, também matéria), que nada mais é que nossa consciência que habita o eterno, permite repensarmos todos os postulados físicos existentes para energia, a fim de ligarmos com aspectos dentro do problema do observador dentro da mecânica quântica.
A matéria ser um organismo interdimensional permite que compreendamos que talvez sua ação no universo não seja tão casual quanto pensamos, sendo permitido a ela flutuar como transporte entre o mundo que chamamos dos mortos e o dos vivos.
E, talvez, quando novamente nos depararmos com o quadro Demócrito em Meditação, veremos ao lado da pilha de ossos de cadáveres ao seu lado, Espíritos de filósofos, cientistas e amigos “invisíveis” auxiliando-o na incrível proposição do átomo que repercute até hoje.
* FONTE: Complete Dictionary of Scientific Biography - Charles Scribner's Sons (https://www.encyclopedia.com/people/philosophy-and-religion/philosophy-biographies/democritus#2830901137).