Fórum Mundial Espírito e Ciência, da LBV: primeiro painel temático convida a dialogar sobre Fé e Ciência
Clara Botelho
19/10/2020 às 22h20 - segunda-feira | Atualizado em 22/04/2021 às 14h39
O primeiro Painel do Congresso temático do Fórum Mundial Espírito e Ciência, da LBV, realizado nesta segunda-feira (19/10), contou com a explanação de diversos estudiosos a respeito do tema: “Ciência e Fé promovendo Esperança para vencer a pandemia do novo coronavírus”. O debate ocorreu em formato on-line e reuniu centenas de participantes, entre os quais cientistas, pesquisadores, religiosos e acadêmicos. Confira a seguir os destaques de cada palestrante.
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Experiências com o novo coronavírus e o papel da Ciência
Para abrir o ciclo de palestras, o Fórum recebeu a imunologista brasileira e professora associada do Departamento de Moléstias Infecciosas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Ester Sabino. A estudiosa também é diretora do Instituto de Medicina Tropical (IMT) da USP e coordenadora do Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE), coordenou, ainda, a primeira equipe no mundo a realizar o sequenciamento do genoma do novo coronavírus, em fevereiro de 2020.
A imunologista começou a palestra contando um pouco de sua experiência profissional como pesquisadora e especialista na área de vírus, trabalhando, por exemplo, com estudos em epidemias do HIV e Zika Vírus, e também com doenças, como Chagas e Febre Amarela. Além disso, a pesquisadora ressaltou sua prática, e de sua equipe, com a pandemia da Covi-19, ao sequenciar o genoma do vírus.
Ao decorrer de sua fala, Ester destacou “A ciência é uma forma de um trabalho, nós temos essa possibilidade de estudar e tentar entender a Natureza. É uma dádiva! Então, a gente tem que entender isso como um caminho que foi nos dado para poder resolver os problemas que a gente enfrenta.”
E completou que precisamos “usar a Ciência como uma ferramenta que pode nos trazer benefícios, pode melhorar a vida das pessoas. (...) A gente passou momentos de grande rivalidade, ainda continua, eu acho que isso foi muito ruim para o controle da epidemia, se a gente voltar a tentar achar soluções mais conjuntas, com as pessoas trabalhando junto, eu acho que é uma forma de a gente repensar o nosso país e melhorar a nossa comunidade. Então, eu vejo com esperança nesse sentido, as pessoas darem um tempo, respirar fundo e pensar o que a gente está fazendo e achar soluções melhores para trabalhar com o mundo, com o Meio Ambiente, com a solidariedade, com questões que a gente não pode deixar para trás e nunca ter tempo para pensar no assunto. Então, eu acho que o mundo teve que parar, então, já que paramos, vamos pensar bem e ver qual é a melhor forma de continuar a vida”.
Judaísmo, Física e Mário Schenberg – qual a relação no contexto atual?
Para dar sequência ao painel temático do Fórum, o estudioso José Luiz Goldfarb contribuiu com a discussão, trazendo seu conhecimento a respeito do Judaísmo e de importante figura histórica, o físico Mário Schenberg, além de conduzir o debate ao difícil momento atual.
O palestrante é doutor em História da Ciência pela Universidade de São Paulo (USP), professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), editor da Educ (Editora da PUC-SP), diretor de Cultura Judaica e também diretor de culto da sinagoga da Associação Brasileira ‘A Hebraica’ de São Paulo. É também membro do Conselho Deliberativo da Associação Amigos do Museu Judaico de São Paulo e coordena vários projetos culturais no Museu da Imagem e do Som (MIS), além de membro Honorário da Academia Paulista de Educação.
O professor introduziu sua fala traçando breve histórico do físico judaico Mário Schenberg, que “foi um cientista, que se projetou no exterior, passou anos na Europa, anos nos Estados Unidos, esteve com os maiores “cabeças” do século 20, grandes prêmios Nobel. (...) fui muito influenciado com Schenberg de que essas divisões que a gente tem ditas como consolidadas na sociedade, ou você é um cientista, ou você é um religioso. Para o Mário Schenberg [isso] não existia”, destacou Goldfarb. E convidou a reflexão “Então, essa é a introdução que eu queria fazer e dizer como é que a gente traz o Mário Schenberg para hoje?”.
O palestrante trouxe também diversas outras questões, entre elas, a discussão sobre o isolamento social: “(...) eu sinto que toda essa situação que a gente vive ela é dura, ela é muito dura, mas a gente sabe pessoalmente, todo mundo sabe, que a gente aprende muito, a gente cresce muito sempre com as situações difíceis, com as crises. Talvez para o judeu a pergunta não é: “por que que está acontecendo a pandemia? Como é que eu explico? Por que Deus está fazendo isso com a gente?”, mas a pergunta que importa é: “o que eu vou fazer? O que eu vou tirar de proveito? O que eu vou crescer dentro dessa situação?”.
A poderosa relação entre espiritualidade e saúde
A terceira palestra contou com o médico e neurologista, Mario Peres, que é também pesquisador sênior do Hospital Israelita Albert Einstein, professor da pós-graduação no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein.
Na ocasião, o médico abordou um pouco sobre alguns assuntos que tangenciam o tema de Espiritualidade e Saúde. Logo no início, fez um breve levantamento com dados de pesquisas científicas de como a espiritualidade e a religião são importantes para o indivíduo e como isso afeta diretamente sua saúde, em suma, o equilíbrio mental.
Ainda, após expor essas informações, o neurologista explanou: “(...) existem muitas pesquisas, mas não só pelo volume, mas pela importância, pela qualidade de algumas pesquisas que mostram realmente informações relevantes. Então, como um resumo nós temos que a espiritualidade e a religiosidade têm uma influência positiva na saúde física, mental e social do indivíduo. Então, na maioria dos estudos existe um efeito favorável, um efeito positivo.”
E concluiu: “Nós vivemos um momento muito especial da humanidade onde todos nós somos desafiados a mudar as nossas práticas diárias, a mudar nossa perspectiva do que fazer, muitas incertezas, muito medo que existe relacionado a pandemia do [novo] coronavírus e as pesquisas também mostram que o recurso da religiosidade e da espiritualidade pode ser um apoio importante também em relação a antecipação de problemas. (...) existem pessoas mais otimistas e existem pessoas mais pessimistas e os indivíduos que têm uma religiosidade mais estruturada e têm uma espiritualidade também na sua vida aparentemente tem um olhar mais positivo também para os desfechos, para as possibilidades. (...) Então, a religiosidade, a espiritualidade podem [também] acomodar essa incerteza, essa inquietude que está assolando aí a todos seres humanos praticamente do nosso planeta”.
Fé e Esperança em tempos difíceis
Para dar continuidade ao ciclo de palestras, o Fórum dispôs também das explanações de Émerson Damásio, ministro Pregador da Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo, sendo também seu diretor administrativo, no Brasil e no exterior. O religioso é pós-graduado em Ciência da Religião, membro do Comitê Nacional de Respeito à Diversidade Religiosa e apresentador de programas na Boa Vontade TV e na Super Rede Boa Vontade de Rádio.
Na oportunidade, o palestrante ressaltou sobre a esperança a partir dos ensinamentos de Jesus, o Cristo Ecumênico, portanto, universal, cuja Suas lições podem ser estudadas e vividas por todas as almas antissectárias, isto é, libertas de preconceitos e tabus, conforme afirma o presidente-pregador da Religião Divina, José de Paiva Netto, também criador do evento.
Em sua fala, o ministro conduziu importantes reflexões sobre o papel da religiosidade neste momento de dificuldade e de isolamento social. Redobrou a necessidade da Fé firmada em valores ecumênicos, ou seja, de respeito a toda e qualquer criatura, principalmente diante dos desafios. “Será que o caminho que nós vínhamos percorrendo, (...) problemas que há 2000 anos, 3000 anos, 5000 mil anos existiam, continuamos a ombrear com eles: ódio, violência, indiferença à dor do próximo, à falta de condições igualitárias a todas as pessoas. (...) é preciso olhar um caminho novo e esse caminho é tão antigo, que talvez nós é que não olhamos, precisamos colocar o colírio do amor de Jesus nos nossos olhos, para enxergar esse caminho novo, o caminho para o êxito, novo para nós que não o percorremos ainda, mas antiquíssimo, mas ao mesmo tempo renovador e atualismo”, reiterou o palestrante.
A abrangência do universo e o que ela diz para nós
Por fim, conduzindo ao término desse primeiro painel temático do Fórum, ocorreu o bate-papo com Patrick Drouot, físico e pesquisador francês, doutor pela Universidade de Columbia em Nova York (EUA). Considerado um dos principais cientistas estudiosos de conteúdos espirituais do mundo, foi palestrante da primeira sessão plenária do Fórum Mundial Espírito e Ciência, da LBV, em outubro de 2000.
No início de sua reflexão, o físico convidou aos presentes a pensarem na dimensão que é o universo e como tudo e todos estão conectados de alguma forma, colocando em destaque a transformação da natureza e a reencarnação: “(...) tanto o conjunto de todas as tradições da humanidade como também o avanço da Física Quântica postulam que há algo em nós que não pode morrer. No século 18, um pouco antes da Revolução Francesa, o cientista Lavoisier dizia: “Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. Então, nós nascemos, vivemos, desencarnamos e voltamos para a luz de onde todos nós viemos e para a qual vamos todos voltar um dia.”, destacou Drouot.
O pesquisador francês ainda concluiu: “Vocês sabem, nossa terra é viva. Na mecânica quântica, explicamos também que tudo é interligado, tudo é entrelaçado, sistemas inteiros funcionam juntos. Se tomamos consciência de que a vida na sua dimensão mais linda, mais maravilhosa, mais grandiosa, se encontra na mais pequenina pedra até na areia da praia, no sol da manhã, na árvore da floresta, na floresta, então, nos damos conta de que, em algum lugar, nós, seres humanos, e toda essa vida que nos envolve e da qual fazemos parte, compõem o mesmo enigma. Isso é para meditar. Então, em um período difícil da existência, são as qualidades humanas fundamentais que vão ser importantes, são as trocas, é a ajuda ao outro, é a escuta... Falamos muito de amor, é verdade, o amor é importante, mas tem a decência, tem o respeito, tem a cumplicidade, tem a doação ao outro...”.
Sobre o evento
Criado em 2000 pelo diretor-presidente da Legião da Boa Vontade, o jornalista e escritor José de Paiva Netto, o Fórum Mundial Espírito e Ciência, da LBV, visa estimular a implementação de propostas no campo pragmático das realizações da sociedade civil, trazendo as contribuições das diversas áreas do saber espiritual e humano para a construção de uma sociedade mais solidária, altruística e ecumênica.
Para mais informações, acesse a página oficial do Fórum Mundial Espírito e Ciência, da LBV!