Em SP: estudo revela que há mais morte causada pela poluição do que por acidentes de trânsito

É dos escapamentos dos carros que sai a maior parte dos poluentes que ameaçam a saúde

Karine Salles

27/05/2014 às 21h01 - terça-feira | Atualizado em 22/09/2016 às 16h01

Marcelo Camargo/ABr
Dados mostram que há mais morte causada pela poluição do que por acidentes de trânsito

 

Estudo do Instituto Saúde e Sustentabilidade aponta que ao menos 4.655 pessoas morreram na capital paulista entre os anos de 2006 e 2011, em decorrência de doenças influenciadas pela inalação de ar poluído — como as cardiovasculares e as do pulmão, a exemplo do câncer.

Trata-se do triplo de pessoas vítimas de acidentes de trânsito. "Uma das principais causas da poluição está relacionada com a quantidade de veículos", explicou ao Portal Boa Vontade o gestor ambiental Renan Rodrigues da Costa, 24, do Instituto Saúde e Sustentabilidade.

Os dados fazem parte da pesquisa Avaliação do impacto da poluição atmosférica sob a visão da saúde no Estado de São Paulo. O estudo sobre a relação entre mortes, adoecimento e a poluição no Estado de São Paulo foi realizado com informações obtidas a partir da segunda metade da década de 2000 e utilizou como base a análise do poluente MP 2,5 (material poluente particulado que mais afeta a saúde).

"O padrão de São Paulo, em 2011, foi de 22,17 microgramas por metro cúbico (m³), enquanto o nível seguro, segundo a Organização Mundial de Saúde, é de 10 microgramas por m³. São 12 microgramas acima do padrão estabelecido, revelando que o paulistano está exposto a riscos significativos decorrentes da poluição atmosférica", destacou.

Além dos milhares de mortes, a inalação do ar poluído também trouxe impactos negativos na qualidade de vida da população. O estudo mostra que respirar em São Paulo tem tirado um ano e meio de vida dos paulistanos. Segundo o gestor ambiental, "a poluição atmosférica é um fator de risco importante para o desenvolvimento de câncer de pulmão. Além disso, o material particulado, quando muito acima dos padrões estabelecidos, se acumula nas vias aéreas e causa irritações, aumenta as alergias e pode aumentar também os casos de asmas", alertou.

A OMS atribui a deterioração da qualidade do ar à dependência dos combustíveis fósseis, como as centrais elétricas movidas a carvão, ao uso de veículos particulares motorizados, à ineficiência energética dos edifícios e ao uso de biomassa na cozinha e no aquecimento.

MAIS ATINGIDOS

Segundo a pesquisa, do ponto de vista da saúde das crianças e idosos, a situação é ainda mais alarmante. Além de ser um público mais vulnerável à ação tóxica dos poluentes, as crianças, por exemplo, já sofrem as consequências da poluição atmosférica dentro do útero materno. Para o pesquisador Renan, isso acontece porque, "da década de 1990 até agora, a população continua a crescer e aumentou também o número da frota, e de outros fatores que causam a poluição atmosférica".

E reforça que o mau desenvolvimento do feto e o aumento a mortalidade também podem acontecer por conta da poluição inalada pela gestante, uma vez que "esses poluentes conseguem chegar até a corrente sanguínea da mãe".

AJUDA NA MELHORIA

A OMS apela, por isso, aos países para que apliquem políticas de mitigação da poluição do ar e para que vigiem de perto a situação nas cidades de todo o mundo. "Muitos centros urbanos estão hoje tão envolvidos em ar poluído que os seus horizontes são invisíveis", disse a diretora-geral adjunta da OMS para a Saúde da Família, Criança e Mulher, Flavia Bustreo. Em abril, a OMS informou que a poluição do ar foi responsável pela morte de 3,7 milhões de pessoas no mundo com menos de 60 anos em 2012.

Ações simples que a sociedade pode fazer diariamente devem ser incentivadas, como "optar pelo transporte público em vez do transporte individual, usar bicicleta, caminhar". Essas atividades auxiliam na diminuição da poluição atmosférica, principalmente nas grandes cidades.

DADOS MUNDIAIS ALARMANTES

Relatório da Organização das Nações Unidas mostra que quase nove em cada dez habitantes das cidades do mundo estão sujeitos a níveis de poluição acima do aceitável, segundo os padrões da OMS. Cerca de metade da população urbana abrangida está exposta a níveis de poluição pelo menos 2,5 vezes mais altos do recomendado.

O índice, que inclui 1.600 cidades de 91 países, conclui que a maioria das cidades do planeta não cumpre as diretrizes da OMS sobre níveis seguros de poluição do ar, ameaçando a saúde dos habitantes. Com efeito, diz a organização, apenas 12% das pessoas que vivem nas cidades compreendidas no estudo respiram ar que respeita as diretrizes.