Como conciliar desenvolvimento econômico com preservação do meio ambiente e justiça social?
Daniel Guimarães
30/05/2014 às 17h37 - sexta-feira | Atualizado em 22/09/2016 às 16h01
Este tem sido o grande desafio internacional há décadas, e a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável de 2012, a "Rio+20", marcou um importante capítulo nessa discussão. Apesar de não ter sido tão ousado, conforme apontam diversos especialistas — principalmente devido ao contexto de crise econômica internacional em que foi realizada —, essa é uma discussão fundamental para o futuro do planeta.
A crise mundial que aparentemente emperra o debate ecológico teve início em 2008, a partir do sistema financeiro dos Estados Unidos, e agravou-se em 2011, com o alto endividamento de países europeus, entre outros fatores. Suas diferentes faces colocam em evidência as contradições e insuficiências dos principais modelos econômicos vigentes, mas que infelizmente muitas vezes são reduzidas a meras divergências ‘técnicas’ a respeito da proporção entre Estado e livre mercado na economia.
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Sem dúvida, a contribuição do debate científico é fundamental. No entanto, dados os grandes desafios que se apresentam ao pensamento econômico nas últimas décadas, o presidente-pregador da Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo, José de Paiva Netto, nos convida a levar a reflexão sobre o tema a um novo patamar, sob o risco de ignorarmos aspectos imprescindíveis a uma ampla compreensão da realidade.
ECONOMIA ESPIRITUAL
Em seu artigo Conhecimento espiritual gera fartura, ele nos apresenta contundentes posicionamentos defendidos ao longo de décadas em suas pregações no rádio e na TV, analisando a rivalidade histórica existente entre diferentes correntes da economia política (no sugestivo subtítulo Quem tem a chave mágica?) e afirma: "o sucesso de qualquer proposta depende muito menos de regras – nem sempre bem configuradas – do que da postura ética do indivíduo". Ora, é exatamente neste aspecto em que se concentra a sua tese, intitulada "Economia da Solidariedade Espiritual e Humana". Em entrevista publicada pelo jornal Folha de S.Paulo em 7 de novembro de 1982, ao comentar sobre uma das mais avassaladoras ‘doenças econômicas’, a inflação, declarou: "(...) o ser humano ainda não descobriu a Solidariedade Espiritual na Economia; cada um se transformou no lobo do outro; cada grupo unicamente defende os seus próprios interesses nem sempre honestos. Escondem o jogo sob uma mecânica falsa em cima de números, como se praticamente os homens não existissem. É o formalismo frígido, mesmo que inconsciente. Ora, em primeiro lugar está o ser humano, depois os números. É o Cristo quem ensina:‘ — O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado’ (Evangelho consoante Marcos, 2:27)".
Daí o autor afirmar, nessa mesma entrevista, que a Economia é essencialmente espiritual, isto é, trata-se de uma ciência (ou arte) que não se detém aos aspectos materiais, pois antes analisa a forma como a Humanidade se relaciona com eles. E esta relação é marcada por fatores espirituais que, no entender da Religião do Amor Fraterno, remetem-se à verdadeira origem dos Seres Humanos, que precede e governa a existência terrena. No artigo Sustentabilidade pela Economia Celeste, Paiva Netto define Espiritualidade Ecumênica como "fator de comedimento que sustenta a ética nas ações humanas, particulares ou públicas".
SENTIDO SOLIDÁRIO
Alguns podem argumentar, no entanto, que aliar Economia e Espiritualidade é utopia e parte de uma visão idealizada do Ser Humano. Cabe ressaltar, porém, que parecem igualmente utópicas nossas modernas sociedades capitalistas de consumo para indivíduos que viveram há apenas alguns séculos (quando ainda predominavam as formas econômicas primitivas da servidão e do escravismo, assentadas sobre concepções equivocadas de Humanidade). Ainda assim, nossas sociedades tornaram-se realidade — e não devido ao acaso, mas graças à ação de inúmeras instituições e atores sociais, que foram se somando em torno de novas ideias.
Vivemos um novo momento de renovação. O propositor da Economia da Solidariedade Espiritual e Humana defende que o espírito eterno do ser humano, "evoluído e valorizado como o Capital de Deus, torna-se o fulcro de estabilidade da Economia, porque se contrapõe à ganância e à impunidade*2”. Ou seja, para superar os atuais dilemas econômicos, é necessária novamente uma ampla mobilização para imprimir uma nova orientação, um sentido solidário às pesquisas e propostas adotadas nessa área, atrelando suas metas e indicadores a um objetivo maior: o de erradicar a miséria material e espiritual do planeta.
Isso significa garantir a todas as pessoas as condições necessárias para sobreviverem e trabalharem dignamente, sendo reconhecidas conforme a sua competência, e garantir também acesso à educação de qualidade, que alie a instrução à séria reflexão e vivência de valores espirituais, altruísticos e ecumênicos – não só nas escolas, mas por todos os meios possíveis, ao longo da vida.
E EU COM ISSO?
Para uma família ou um indivíduo, viver sob a égide da Economia da Solidariedade Espiritual e Humana significa agir a partir de uma nova consciência, que priorize a felicidade alcançada pelo crescimento espiritual e pela vivência da Fraternidade Ecumênica, colocando, em segundo plano, experiências que proporcionem bem-estar passageiro.
Isso implica em rever frequentemente as prioridades e objetivos de vida, as conversas, os hábitos cultivados no cotidiano, a necessidade de se consumir tanta coisa, as atividades realizadas, entre outros aspectos que, se gradualmente modificados, podem fazer uma enorme diferença na saúde espiritual, social, mental e física de cada um e consequentemente, do planeta.
A maioria das soluções para os desafios individuais e coletivos da Humanidade, inclusive nos campos social, ambiental e econômico, já são conhecidas. Quando não são adotadas, porém, o resultado é a exploração predatória do próprio ser humano e do meio em que vive. O sentido de Solidariedade nos permite encurtar a distância entre teoria e prática. E para tal, ressaltamos a atualíssima reflexão de Paiva Netto: "O conhecimento é patrimônio eterno do ser humano e de seu Espírito imortal. Na Economia, gera riqueza. Unido ao Amor Fraterno, criará prosperidade*3”. Essa reflexão nos dá a certeza de que uma nova história é possível. Vamos construí-la?
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*1 Paiva Netto define Jesus como o "Economista Celeste" e também o "Economista Divino". Saiba mais sobre o assunto lendo também o artigo Sustentabilidade pela Economia Celeste.
*2 Citação extraída do artigo Gandhi: o capital em si não é mau, do escritor Paiva Netto.
*3 Artigo Conhecimento espiritual gera fartura, de Paiva Netto.