Saiba como foi a edição 2023 do Fórum Mundial Espírito e Ciência, da LBV!

O evento promoveu um debate amplo e fraterno sobre o tema “Ciência e Fé investigam as dimensões da consciência”.

Da redação

18/10/2023 às 21h00 - quarta-feira | Atualizado em 19/10/2023 às 01h12

No dia 18 de outubro, quarta-feira, ocorreu a edição 2023 do Fórum Mundial Espírito e Ciência, da LBV, que promoveu um debate amplo e fraterno sobre o tema “Ciência e Fé investigam as dimensões da consciência”. O evento foi on-line e com tradução simultânea em LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais). 

A transmissão ocorreu, a partir das 19h, do Salão Nobre do Parlamento Mundial da Fraternidade Ecumênica, o ParlaMundi da LBV, em Brasília/DF, e contou com a participação de palestrantes de referência no assunto. Na abertura do evento, Nicholas Beck de Paiva, representando o presidente da Legião da Boa Vontade e criador do Fórum, José de Paiva Netto, saudou a todos os presentes. 

Assista novamente!

Vamos aos destaques das palestras:

O que torna alterações de consciência patológicas ou não? 

Arquivo pessoal

Professor doutor Etzel Cardeña, diretor do Centro de Pesquisa sobre Consciência e Psicologia Anômala, da Universidade de Lund, na Suécia.

Iniciando o ciclo de palestras, o Fórum recebeu o dr. Etzel Cardeña, professor Thorsen de Psicologia na Universidade de Lund, Suécia, onde é diretor do Centro de Pesquisa em Consciência e Psicologia Anômala. Ele é um dos maiores pesquisadores de psicologia anômala, estados alterados de consciência e hipnose.

Na oportunidade, o professor apresentou um panorama amplo das principais pesquisas mundiais sobre experiências religiosas, trazendo dados científicos atualíssimos e análises profundas, focando na necessidade de se refinar diagnósticos de saúde para não se reduzir manifestações espirituais a doenças mentais ou emocionais.

Explicando o que são experiências anômalas, ele afirmou: “(...) é uma experiência que não é necessariamente anormal, patológica ou subclínica; nem é necessariamente normal, no sentido de que é uma experiência que talvez a maioria das pessoas de uma cultura possam não experimentar. (...) são as experiências de quase-morte, as alucinações — e vou falar delas mais detalhadamente — as experiências místicas, nas quais a pessoa sente que faz parte de tudo, as experiências relacionadas com a parapsicologia, em que as pessoas podem sentir que têm informações, que recebem informações que não deveriam receber. Então, é a isso que me refiro com uma experiência anômala. (...) as experiências anômalas são mais comuns do que se pensa e que há pessoas que têm uma propensão a tê-las, que são como traços de personalidade. (...)”

Mas quando essas experiências se tornam patológicas?

O dr. Etzel Cardeña esclareceu em sua apresentação: “(...) Estou me baseando sobretudo em um estudo de Powers e coautores, em que compararam pacientes com esquizofrenia e pacientes que se diziam psíquicos, novamente, que tinham experiências anômalas, mas que não tinham problemas mentais. E um aspecto muito importante — e eles não são os únicos que o encontraram — é que uma diferença entre esses dois grupos é a de que os psíquicos davam às suas experiências incomuns um significado positivo.

O segundo ponto é que os psíquicos diziam que não tinham medo das vozes que ouviam, que eram vozes positivas, que não se sentiam intimidados por elas; enquanto os pacientes com esquizofrenia tendiam a dizer que as pessoas que estavam falando com eles, as vozes os intimidavam, eles tinham medo delas. (...) O terceiro ponto é que os psíquicos interagiam com as vozes. (...) E o último ponto é que os psíquicos diziam que podiam controlar a experiência, ou seja, que ouviam vozes, mas, se tivessem que falar com, digamos, uma visita, podiam dizer ‘bem, não vou ouvir agora; não vou me concentrar na voz, e sim vou interagir com a pessoa que veio à minha casa’. (...) Portanto, este é um exemplo que compara pessoas psíquicas, ou pessoas atribuídas de talentos psíquicos, com pessoas com esquizofrenia. (...)”

“Somos todos sensitivos” (Paiva Netto)

Prosseguindo com as palestras, o Irmão Haroldo Rocha, Chanceler da Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo, abordou o tema “Somos todos sensitivos”, tese de Paiva Netto, presidente-pregador da Religião Divina. Ele explicou a perspectiva das capacidades sensitivas, ou mediúnicas, ou paranormais, serem inerentes a cada pessoa, e como educá-las para o Bem, evitando o sofrimento.

“Quero firmar minhas palavras nesta palestra, sobre o livro de Paiva Netto, Sagradas Diretrizes Espirituais da Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo, volume 2 (edição revista e ampliada pelo autor), que nos fala da realidade entre os Mundos Espiritual e Físico, da ligação entre o Céu e a Terra, da realidade entre o Mundo Material e o Mundo Espiritual, sobre a comunicação que permite o intercâmbio dessas duas dimensões e mais: as manifestações dessa realidade pelos séculos e milênios (...)”, afirmou.

Entre os destaques apresentados, está o subtítulo "O Ecumenismo do TBV permeia os Mundos Material e Espiritual", da obra mencionada (nas páginas 426 e 427):

"(...) Alziro Zarur, em 1973, ao afirmar: 'Religião, Ciência, Filosofia e Política são quatro aspectos da mesma Verdade, que é Deus'. Ele assim defendia uma vez mais o Ecumenismo Irrestrito, não limitado a duas ou três religiões dominantes, que também merecem de nós todo o respeito, todavia unindo todas as tradições de fé e, além delas, os demais campos da sociedade".

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Os Quatro Pilares do Ecumenismo

E prossegue o escritor Paiva Netto em sua obra literária:

"Ocorre, porém, que a missão do Templo da Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo, seguindo a programação deixada pelo próprio Zarur — denominada por ele próprio de Ecumenismo Total — de unir à Sociedade Celeste a sociedade terrestre, é infinitamente mais ampla, porque adentra o território do Invisível. Desvenda-nos o Plano dos Espíritos, não como algo abstrato, mas realidade concreta, cuja aceitação resultará numa extraordinária renovação da humanidade terrena, que aprenderá muito com os vivos que habitam o mundo dos “mortos”, que não se encontram mortos coisa alguma. Convém, entretanto, alertar, com veemência, que a proposta do Ecumenismo Total, sustentada pela Religião do Terceiro Milênio, consiste na ligação consciente, pragmática, realizadora dos seres terrestres com os seres do Mundo (ainda) Invisível da mais alta hierarquia, e não com os espíritos atrasados, que estão precisando das nossas preces".

Em toda a palestra, o Irmão Haroldo Rocha trouxe importantes reflexões presentes entre as páginas 425 e 457 das Sagradas Diretrizes Espirituais da Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo, volume 2.

Experiências espirituais no contexto hospitalar: relatos de profissionais de saúde

A terceira palestra contou com a profa. dra. Marta Helena de Freitas, doutora em psicologia pela Universidade de Brasília (UnB) e professora adjunta da Universidade Católica de Brasília (UCB).

Ela apresentou casos que coletou em ambientes hospitalares, onde ocorriam relatos de fenômenos espirituais, ou com as equipes médicas ou com os pacientes: “(...) eu falo do lugar de quem é psicóloga e que trabalha há muitos anos investigando como é que os profissionais de saúde — inclusive os psicoterapeutas — percebem, recebem e lidam e veem as questões ligadas à religiosidade e espiritualidade no contexto dos seus atendimentos clínicos. (...) Então, eu vou compartilhar com vocês quatro casos bastante paradigmáticos que ilustram como esse tema emerge nesses contextos de saúde física e mental, como é que esses profissionais perceberam, descreveram e lidaram com essas experiências, mostrando o impacto que isso tem na saúde física ou mental, e no modo de cuidar e as implicações disso para a prática profissional. (...)”

Após relatar os casos de experiências espirituais, a professora explanou os seguintes questionamentos: “(...) vale nós pensarmos, agora deixando de ser descritiva – eu, psicóloga – passando a ter uma análise mais hermenêutica. Que implicações isso tem para os cuidados com a saúde? Que implicações isso tem para a formação profissional? Será que a nossa instituição oferece um suporte para o cuidado espiritual com a saúde? Será que esses desafios éticos que nós trouxemos aqui, de várias ordens, estão sendo considerados, especialmente num país como o Brasil, de diversidade religiosa, e onde as manifestações mediúnicas são vividas como legítimas por uma grande parcela da população? Será que esses profissionais estão desenvolvendo competências e habilidades para lidar com isso no contexto da saúde e inclusive no contexto hospitalar? E quais os limites e interconexões entre as esferas científica e religiosa, que não podem ser negadas, mas que também não podem ser estabelecidas à custa do reducionismo da experiência, transformando tudo em patologia, e em termos de formação profissional e produção do conhecimento? (...)”

Interagindo com o mundo dos ancestrais e o poder da música

Dando continuidade às palestras, o Fórum recebeu a Mãe Baiana de Oyá (Adna dos Santos Araújo), do terreiro de candomblé Ylê Axé Oyá Bagan. Ela atua na defesa dos Direitos Humanos há mais de 40 anos e é coordenadora da Renafro – Rede de Saúde Afrodescendente, na região do Distrito Federal.

Na ocasião, ela explicou o intercâmbio entre mundo material e mundo espiritual a partir do contato com a ancestralidade, tendo como um dos eixos principais a música e o cuidado com o próximo: “(...) Através da música nós podemos levar esse amor imenso que nós temos para oferecer a cada um. Porque é isso que os nossos ancestrais nos trouxeram, é isso que a nossa ancestralidade deixou, este legado de amor, esse legado de compaixão, quando os nossos homens, mulheres, crianças, nosso povo preto atravessou o grande mar em um porão de navio negreiro, ali trouxe compaixão, e ao que estamos dando a continuidade até nos dias de hoje. Quando nós, povos e comunidades tradicionais de matrizes africanas, estamos dentro dos nossos terreiros, cuidando e zelando, também estamos cumprindo um grande legado que o nosso Deus também nos deixou. (...) tenho visto muitas pessoas que chegam no terreiro e vão através do som. Elas, às vezes, estão em casa ou estão em algum lugar, ou estão passando num momento em que nós estamos louvando os nossos Orixás, essas pessoas vêm até nós através da música, porque sentem de fato a paz nascer dentro do seu coração, sentem de fato a paz nascer na sua Espiritualidade (...).”

Espiritualidade, hipnose e estados de transe

Finalizando o ciclo de palestras, o prof. dr. Maurício Neubern, professor associado do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB) e líder do grupo de pesquisa do CNPq “Complexidade, Hipnose e Subjetividade” (CHYS), trouxe conceituações científicas acerca da Espiritualidade, como constituidora de sentido de vida, e abordou o que há de mais atual nas discussões sobre as análises etnopsicológicas dos fenômenos espirituais, em especial dos estados de transe e hipnóticos.

Apresentando seu conceito sobre Espiritualidade, ele afirmou: “(...) Espiritualidade, ela tem sim um elemento forte de busca de sentido, ela mexe, digamos, com o que seria atrelado com as profundezas do espírito humano, da nossa subjetividade se quiser, como forte gerador de sentido para vida, a ponto de muitas pessoas entenderem que a sua ação no mundo é uma constante transmissão da relação delas com esse ideal maior. Entretanto, muito a partir deste lugar de onde eu falo — como brasileiro — e das pessoas com quem eu tive a oportunidade e, de um certo modo, privilégio de conviver, que eram... buscaram ajuda no nosso serviço de atendimento psicológico da universidade, eu resolvi pensar isso de uma maneira mais ampla. Por quê? Porque essa busca de sentido, sim, ela pode estar presente na Filosofia, ela pode estar presente na Ciência, ela pode estar presente em uma pessoa que aparentemente tem uma vida muito normal, mas ela costuma ser impregnada de elementos culturais e coletivos de outras ordens também. Então, comumente, o termo espiritual ele também vai aparecer atrelado à ligação dessa pessoa com algo espiritual maior, como o Divino. (...)”

O que a Espiritualidade tem a ver com hipnose e com o transe?

O professor explicou: “(...) Sem poder aprofundar muito nas diferenças conceituais de hipnose e transe, e partindo das necessidades que eu percebi aqui no Brasil, onde você tem 90% da população dizendo-se afiliada à algum tipo de religião, e muitas vezes frequentando religiões diferentes — até, às vezes, que opõem muitas ideias entre si — eu passei a adotar uma visão na qual o transe é entendido dentro da hipnose. Hipnose seria a relação entre os dispositivos, as técnicas, os modos que levam uma pessoa a um estado de transe. (...) O transe, ele já vai estar ligado com um conjunto de alterações das relações entre o ‘eu’ e o mundo. Então, como assim? Referência de espaço, uma pessoa que está em transe, ela pode estar aqui e pode estar em outro lugar; ela pode estar aqui e pode estar em outro tempo também — olha outra referência que se altera —; ela pode estar aqui e pode estar no passado; ou fazendo uma projeção futura; ela pode estar aqui e pode estar em um lugar que ela atribui como um mundo espiritual ou mundo onírico. (...)”

Sobre o evento

Criado em 2000 pelo presidente da Legião da Boa Vontade, o jornalista e escritor José de Paiva Netto, o Fórum Mundial Espírito e Ciência, da LBV, visa estimular a implementação de propostas no campo pragmático das realizações da sociedade civil, trazendo as contribuições das diversas áreas do saber espiritual e humano para a construção de uma sociedade mais solidária, altruística e ecumênica.

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