Paiva Netto: Um homem à frente do seu tempo

Mário Augusto Brandão

26/06/2024 às 14h01 - quarta-feira | Atualizado em 26/06/2024 às 19h43

Arquivo pessoal

Mário Augusto Brandão

Ao longo das eras, grandes luminares trouxeram valiosas contribuições para o desenvolvimento dos povos, nas mais diversas áreas do saber humano. Contudo, como numa bula de remédio, além dos benefícios que o medicamento oferece, encontramos as contraindicações e o prazo de validade. Daí notarmos, na esteira da vida, muitos desses gênios, que marcaram seus nomes na História, reféns do seu próprio tempo. Ideias, comportamentos, inspirações de outrora, que revolucionaram costumes, hoje, em sua maioria, não atendem mais aos anseios da sociedade moderna.

Ao refletir sobre os 68 anos de trabalho do escritor, jornalista e radialista José de Paiva Netto, nas Instituições da Boa Vontade, deparei-me com um fato impressionante. Sua existência, desde menino, pautada pelos preceitos divinos e nas lições do Evangelho-Apocalipse de Jesus, em Espírito e Verdade, à luz do Novo Mandamento do Cristo: “Amai-vos como Eu vos amei. Somente assim podereis ser reconhecidos como meus discípulos” (Boa Nova do Cristo, segundo João, 13:34 e 35), livrou a sua pregação irrestritamente ecumênica dos grilhões da transitoriedade humana.

Num artigo de sua autoria, publicado no Jornal de Brasília, em 21 de dezembro de 1989, percebi um dos motivos pelo qual podemos afirmar, categoricamente, que Paiva Netto é um homem à frente do seu tempo:

Jesus está sempre na moda porque é eterno. A Seu respeito profetizou Si​meão: ‘Eis que este menino está destinado para a ruína e para a elevação de muitos, e para ser alvo de contradição’ (Evangelho de Jesus, segundo Lucas, 2:34). Se o Brasil quiser*, queimando etapas, realmente encontrar o seu destino no concerto das nações neste final tríplice de século, de milênio (estávamos em 1989) e de ciclo apocalíptico, deve procurar compreender que Jesus é, acima de tudo, uma gene​rosa e atualíssima ideia em mar​cha, que merece ser estudada e vivida por todas as Almas antisectárias, libertas de preconceitos e tabus.

* Se o Brasil quiser... – E naturalmente todas as nações do mundo.

Fica claro que a mensagem do Divino Pegureiro se encontra numa dimensão de Espaço e Tempo Divinos, dirigida ao Espírito Eterno da criatura humana, livre dos limitados cinco sentidos materiais.

Voltando à metáfora do remédio, ao citarmos as contraindicações, temos na Revolução Francesa um exemplo clássico. Durante uma Cruzada da Comunhão com Deus, ocorrida em 6 de dezembro de 1986, na cidade do Rio de Janeiro/RJ, o Irmão Paiva vem ao encontro de nosso raciocínio, ao esclarecer:

Se muita gente quer liberdade e não quer responsabilidade, isso não é liberdade. E quanto mais gritam liberdade, menos liberdade aparece no mundo. Eu peguei o exemplo da Revolução Francesa. Caíra o Absolutismo dos Capetos que governavam a França com Luís XVI e Maria Antonieta. O povo, com fome, se encheu. Olha o perigo! O que é que eu escrevi: Barrigas vazias nem sempre estão dispostas a ouvir. Disse isso firmado naquele pensamento de Virgílio, na Eneida: “A fome é má conselheira”. Também a fome do Espírito. E o povo, cheio, derrubou aquela dinastia absolutista. Veio o Diretório, veio o Consulado, tanta coisa. O terror também, como Robespierre, Danton e todos eles. E o povo gritava: Liberdade!

E, ao gritaram tanto a liberdade, sabe o que veio para eles? Napoleão Bonaparte. Porque não basta gritar liberdade; é preciso saber ter, viver e manter essa liberdade.

Numa analogia perspicaz, o respeitado educador Paiva Netto, em sua página “Esopo, Liberdade e Esperança”, no subtítulo “A Lição de Jesus, apresenta-nos a diferença entre a verdade dos homens e a de Deus que nos liberta (Evangelho, segundo João, 8:32).

 

(...) a verdade dos homens, em geral, costuma deixá-los malogrados, porque às vezes é apenas razão, que pode variar conforme os mais diversos fatores, incluídos os de longitude e latitude, apesar da globalização infrene. 

A de Deus, porquanto Razão embasada na justiça e firmemente no Amor, por conseguinte distante de fanatismos ou convicções pétreas, eleva-os ao esclarecimento maior, até mesmo nas dúvidas mais recônditas, premiando-os, quando pacientes e pertinazes, com a emancipação que não os surpreenderá, adiante, com as mais tristes frustrações. Isso ocorreu com ilustres pensadores que viram suas certezas abaladas, ou mesmo derruídas, com a falência de ideologias brilhantes, porém pouco eficazes. Entretanto, como esclareceu Lavoisier (1743-1794): “Na Natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. Eis que não existe culpado, sendo crente ou ateu, por querer, em todos os sentidos, o melhor para o povo. (...) Ninguém aprisiona o espírito de um homem livre. Que o diga o Gandhi, que escreveu muitas de suas mais belas e decisivas páginas enquanto sofria prisões na luta pela libertação dos indianos.

Para finalizar, vimos nessas linhas despretensiosas, o quanto a vida e a obra do jornalista, radialista e escritor Paiva Netto, no alto de seus 83 anos de vida, 68 dos quais dedicados à causa da Boa Vontade, é a inspiração-mor no surgimento de uma sociedade regida pelo, no dizer dele, “Homem da validade eterna”:

O Homem Novo do Novo Mandamento (que é Divina Lei de Amor), além da sobrevivência material, buscará a Liberdade pelo conhecimento da Verdade do seu Criador, de forma que – iluminado o Espírito – saiba este construir sua riqueza, longe da miséria. E isto é Política e Economia no mais alto significado: combater a pobreza desde a sua origem, situada no íntimo do ser humano.