Jornalista Ruy Nogueira presta homenagem ao amigo Sebastião Nery

Ruy Nogueira

23/09/2024 às 15h40 - segunda-feira | Atualizado em 23/09/2024 às 17h42

O renomado jornalista Ruy Nogueira usou suas redes sociais nesta segunda-feira, 23, para prestar uma emocionante homenagem ao amigo e também jornalista Sebastião Nery, que voltou à Pátria Espiritual. Em sua mensagem, Nogueira relembrou momentos marcantes da trajetória de Nery, destacando a integridade, a paixão pelo jornalismo e o compromisso com a verdade que nortearam sua carreira.

"Sebastião Nery não veio ao mundo à passeio, veio à serviço. Menino feio e inteligentíssimo, baiano de Jaguaquara, revelou gênio já no seminário. Se os prazeres da vida não o cooptassem na forma de um desfile interminável de namoros, aventuras e casamentos, teria sido um Cardeal, daqueles com prestígio e força na Santa Sé. Jornalista de texto maravilhoso, amigo impecável, ótimo caráter, comunista que acreditava em Deus, escreveu sua vida, fantástica, invejável, cheia de luz. A cultura era enciclopédica, o humor refinadíssimo, a coragem beirando a irresponsabilidade. Vereador comunista em Belo Horizonte, não o deixaram tomar posse. Deputado estadual na Bahia, infernizou o governo de Juracy Magalhães, que o cassou em 64 e o trancafiou em solitária fétida e úmida num quartel na periferia de Salvador: “fiquei com os ratos, nenhum mais sujo que o Juracy”. Recomeçou a vida no Rio de Janeiro, fundando o semanário Politika, um primor de engenharia: três sócios, ele, de esquerda, o brilhante paraense Oliveira Bastos, de centro, e a direita representada pelo amigo Adirson de Barros. Sucesso total! Reuniu o lado risonho e caricato da política em sucessivos livros que se tornaram best-sellers: “Folclore Político”, depois reunidos em um só volume pela Geração Editorial, de Luiz Fernando Emediato. Eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro, votação recorde, foi fundamental para a vitória de Brizola em 82. Brilhou no Congresso, como na vida. Adido cultural em Roma e Paris. Nossa amizade (que permanecerá pela eternidade) nasceu em 1981, em mesa onde estavam o jornalista José Nêumanne Pinto (nosso irmão querido), o usineiro Clóvis de Azevedo (de saudosa memória), o mítico José Paulo Freire, o “Zé do Pé”. Nery é de uma geração que fabricou brasileiros cultos, generosos, carismáticos. Escrevia com o vezo da genialidade, encantava platéias, fazia amigos como quem erguia fortalezas. E eles já choram sua partida: Fernando Collor, Paiva Netto, Silvestre Gorgulho, Pedro Rogério, Roque Citadini, Euclydes de Mello, Fernando Morais. Sua partida me toca profundamente, sua ausência me doerá vida afora. Nery foi dos grandes brasileiros do seu tempo, foi um irmão que a vida me presenteou", escreveu.

Reprodução

Veteranos jornalistas Sebastião Nery e Ruy Nogueira confraternizam com o presidente da LBV, Paiva Netto, durante evento legionário, em Maringá/PR.

Sebastião Nery, conhecido por sua atuação combativa e por suas colunas políticas, deixa um legado de mais de seis décadas de contribuição ao jornalismo brasileiro.