Consciência no consumo é urgente: o ritmo das compras pode custar mais 5 planetas
Wellington Carvalho
05/07/2014 às 15h38 - sábado | Atualizado em 22/09/2016 às 16h02
Hoje em dia, vivemos um contexto em que comprar é uma ação quase que cotidiana. Pela internet, TV, rádio, outdoors ou por outras mídias, propagandas de todos os lados incentivam o consumo de diversos tipos de produtos — nem sempre tão úteis, é preciso ressaltar. Basta o anúncio de uma liquidação, que todos já correm com o cartão de crédito para a loja.
Já parou para pensar que cada vez que uma pessoa faz novas aquisições, o meio ambiente pode ser prejudicado? Para produtos feitos de papel serem elaborados, por exemplo, boa parte da matéria-prima — no caso, a celulose — provém das árvores, que muitas vezes são derrubadas ilegalmente; objetos de plástico dependem da extração de petróleo; veículos são construídos com grande proporção de metal...
Daí a importância de cada indivíduo ter em mente o quanto o seu consumo impacta na coletividade. Para se ter ideia, a cota de recursos que a natureza poderia oferecer em todo o mundo no ano de 2014 se esgotou rápido: em agosto do mesmo ano. A data, inclusive, assinalou o Dia da Sobrecarga da Terra, marco anual de quando o consumo humano ultrapassa a capacidade de renovação do planeta. O cálculo foi divulgado pela Global Footprint Network (Rede Global da Pegada Ecológica), organização não governamental parceira da rede WWF.
Tomando como exemplo o padrão de consumo dos Estados Unidos, precisaríamos de quase mais 5 planetas para dar conta da demanda. Na China, a fabricação constante de variados objetos favorece que os níveis de poluição de suas metrópoles, a exemplo de Pequim, atinjam níveis tão críticos na atualidade que mal é possível enxergar o nascer ou pôr do sol. Estudos recentes revelaram uma estimativa de que cerca de dois terços do solo chinês estariam contaminados e que 60% da água subterrânea também estariam impróprias para o consumo.
E ainda pode-se falar do consumo exarcebado não só de produtos industriais, mas também das próprias riquezas que o planeta nos oferece, como a água, tão necessária às atividades humanas, a exemplo da agricultura. Nesta, passa despercebido que o desperdício de alimentos é perda também de toda a utilização de terra, água, maquinários e esforço físico dos lavradores. Sem falarmos que, enquanto muitos se desfazem do resto do prato tranquilamente, 870 milhões de pessoas no globo dormem com fome todas as noites, como aponta a Organização das Nações Unidas (ONU).
De acordo com o diretor-executivo da Conservação Internacional, André Guimarães, a humanidade prejudicará sua qualidade de vida com mais pobreza e doenças, caso não mude a prática de consumir com insensatez: "Esse ritmo de consumo vai culminar na exaustão dos recursos naturais em longo prazo. Estamos colocando nossa qualidade de vida e nosso futuro em risco. Se consumirmos a natureza em excesso, em algum momento vamos ter que pagar essa conta na forma de poluição, doenças, água menos disponível para nosso desenvolvimento e uso, pobreza e falta de alimentos".
A questão não vem de hoje e continua tão urgente que o jornalista, radialista e escritor Paiva Netto, diretor-presidente da Legião da Boa Vontade (LBV), já vem alertando há anos para ela. Em seu artigo "O Sentido da Religião", por exemplo, chama atenção à necessidade de o ser humano "domar os excessos materializantes de uma globalização firmada sobre a mentalidade de que o consumismo desenfreado é a felicidade ideal para a criatura humana. Isso é uma fraude, a começar pelo fato de que multidões não possuem o suficiente para se manterem dignamente vivas".
AÇÕES EFICIENTES
Para existir um desenvolvimento sustentável, o consumo consciente é fator imprescindível, visto que pode minimizar esses problemas. Que ninguém pense que isso é impossível! Diversos países já compartilham bons exemplos, que devem servir de inspiração a todos os cidadãos planetários: Suíça, Singapura e Noruega, por exemplo, estão entre as 10 nações mais sustentáveis, como constatou o ranking Environmental Performance Index (EPI), produzido por especialistas das universidades norte-americanas de Yale e Columbia. Na Holanda, após sofrer com muita poluição atmosférica e o estresse de congestionamentos, os habitantes de Amsterdã trocaram os veículos automotores por bicicletas e, transformando a cidade em um dos principais centros de bikes hoje, reverteram a situação.
Consumir somente o que é necessário não só é um ato de cidadania, mas também expressa Solidariedade, já que promove o melhor acesso de todos aos recursos que, atualmente, muitos têm e outros, nem tanto. O Portal Boa Vontade apresenta abaixo dicas para que o seu consumo não seja prática desmedida:
Consumo consciente
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* Com informações da Agência Brasil e da ONU Brasil.