Sem ‘gafes’: Confira dicas simples para a convivência com quem têm deficiência visual

Wellington Carvalho

17/11/2014 às 20h50 - segunda-feira | Atualizado em 22/09/2016 às 16h04

Edu Cesar/livestard.blogspot.com.br
"Você sabia que não se pode brincar como cão-guia? "Pois ele está trabalhando, ajudando na locomoção do cego".

Quem nunca cometeu uma “gafe” em relação a outra pessoa? Quando lidamos com alguém que tem deficiência visual, realizamos algumas ações equivocadas e constrangedoras. Quer um exemplo? Aproximar-se de um cego e pedir para ele adivinhar quem é ao invés de apresentar-se. 

Para ajudar você nessas situações, o Portal Boa Vontade conversou com o diretor-presidente da Associação de Deficientes Visuais e Amigos (Adeva), Markiano Charan Filho, 51, que apresentou algumas orientações básicas de convívio com pessoas de baixa visão ou deficientes visuais. Cego desde bebê, em decorrência de uma retinopatia da prematuridade, ele sabe o que é "sentir na pele" por algumas das situações.

ATRAVESSAR A RUA

"Para auxiliar a pessoa cega a atravessar a rua, basta oferecer o seu braço. Nada de pegar no braço dela ou na mão."

DIRECIONANDO À CADEIRA

"Para facilitar que o cego se sente, basta colocar a mão dele no encosto da cadeira. Às vezes, a pessoa que está guiando quer girar ou puxar a pessoa com deficiência visual. Não precisa de nada disso. Para se levantar, sem preocupações desnecessárias: ela se levantará sozinha."

PELA RAMPA É SEMPRE MELHOR? TALVEZ NÃO…

Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo

Markiano Charan Filho, diretor-presidente da Adeva.

"As rampas são fundamentais na nossa sociedade, favorecem as pessoas que utilizam cadeira de rodas. Mas os cegos não têm problema com escadas. É comum querer guiar o cego pela rampa, mas às vezes ela dá muitas voltas, enquanto o cego poderia abreviar o caminho subindo alguns degraus."

PRAZER! QUEM É VOCÊ MESMO?

"Quando você se dirige a um grupo de pessoas com alguém cego, é importante apresentar todos os componentes da 'rodinha' a ele. Assim, a pessoa com deficiência visual poderá participar do diálogo sem ficar em dúvida sobre quem é o dono de cada voz."

ESTÁ ME OUVINDO? CADÊ VOCÊ?

"Quando estiver com um cego e tiver que se ausentar do local, fale para ele que você está saindo. É muito comum alguém estar conversando e precisar sair rapidamente, deixando a pessoa cega falando sozinha. Quando for atender ao celular, avise que falará com outra pessoa por alguns minutos."

O QUE ELE DESEJA?

"Não pergunte na terceira pessoa. É muito comum em restaurantes que o garçom atenda o pedido do cego perguntando para o (a) acompanhante: 'Ele deseja tal coisa?'. Quando desejar saber de algo em relação à pessoa com deficiência visual, pergunte logo a ela."

SOU CEGO; NÃO SURDO

"Falar alto com um cego sem necessidade é totalmente errado. A pessoa é cega; não surda. Não é porque ela não enxerga que também não ouve perfeitamente bem."

BRINCAR COM O CÃO-GUIA É PERMITIDO?

"Não, pois ele está trabalhando, ajudando na locomoção do cego. Não se pode simplesmente ir brincando com ele, porque você acaba tirando a atenção do animal. Só se deve brincar com o cachorro quando ele não estiver ajudando o dono."

AUXÍLIO CONSTANTE NO AMBIENTE PROFISSIONAL

"Todas as pessoas dependem uma das outras, sendo cegas ou não. Auxílio é sempre bem-vindo, desde que não seja algo que caia na superproteção. Aliás, uma coisa que se deve fazer é sempre perguntar se a pessoa com deficiência precisa de ajuda. Se ela negar, não é preciso se chatear; ela realmente não precisa. Se puder perguntar sempre que tiver dúvida, diminuirá 90% das chances de cometer uma 'gafe'."

FAMILIARES COMENTANDO FOTOS CONSTRANGE O CEGO?

"Não. Este é um pensamento equivocado. Você pode descrever as imagens. É até de bom tom fazer isso, porque é uma questão de inclusão da pessoa naquele contexto. Não é porque a pessoa é cega que não pode participar. Também é desnecessário trocar as palavras: 'Você viu?! Quer dizer, assistiu? Ops...Ouviu?'. Não tem nada demais perguntar: 'Você viu?'; é assim que falamos no dia a dia. Devemos sempre pensar na inclusão; nunca quebrar esse processo. Um exemplo: certa criança com problema de visão sempre descia as escadarias do colégio com a ajuda do segurança. Se ela descesse com algum coleguinha, sua inclusão com a turma seria muito mais facilitada."

São dicas simples, mas que fazem muita diferença na forma como nos relacionamos com as pessoas que têm algum tipo de deficiência visual. Exclusão? Somente do preconceito. Por isso, o sr. Markiano Charan Filho destaca: "Se reparamos na nossa própria mão, veremos cinco dedos diferentes um do outro, mas que convivem perfeitamente lado a lado, formando a mão. Temos que respeitar nossas diferenças e, assim, daremos grandes passos para uma melhor inclusão, tendo cidadãos mais bem-informados".
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Colaboração: Karine Salles