Não às bebidas alcoólicas: desmentimos cinco desculpas básicas

Problemas de saúde, no relacionamento familiar e no trabalho são algumas das consequências do álcool no organismo

Janine Martins

18/02/2015 às 21h32 - quarta-feira | Atualizado em 24/02/2020 às 11h08

Você bebe? Sabe as consequências das bebidas alcóolicas para o organismo? Elas alteram várias funções do nosso corpo e podem atrapalhar nossos reflexos, atenção, sono... Os prejuízos são muitos, seja na nossa saúde, passando pelo rendimento no trabalho e interferindo até na vida social. Para esclarecer dúvidas sobre o assunto, conversamos com a psiquiatra Ana Cecília Marques, presidente da Associação Brasileira para o Estudo do Álcool e outras Drogas (Abead).

O primeiro passo é identificar se é um caso de abuso ou de dependência. “A dependência é uma doença que acontece no cérebro, e, portanto, afetando o cérebro, afeta o organismo como um todo; o comportamento e as relações sociais também, sem a menor dúvida”. Sabia que o consumo abusivo de álcool é fator de risco das principais doenças crônicas não transmissíveis? Independe de ser um caso ou outro, é importante riscar o álcool do cardápio de uma vez por todas. E nós explicamos o porquê e desmistificamos algumas das desculpas mais comuns:

Shutterstock

1) “É só um copinho pra relaxar”

A história não é bem assim. A intenção pode até ser, mas nem sempre é o que se consegue. Quando mais se bebe, mais se quer. Conforme o corpo vai se acostumando à bebida, mais a pessoa precisa para ter o “efeito” inicial. “O indivíduo que tem uma carreira de usuário, ele vai adquirindo, no seu organismo, tolerância, o organismo vai precisando de mais doses, mais doses, para obter o efeito inicial”

2) “Eu paro a hora que eu quiser"

Para um organismo acostumado ao consumo de álcool, pode não ser fácil cortar este hábito de uma vez por um motivo que os especialistas advertem: a síndrome de abstinência. “É quando o indivíduo não consegue ficar sem o álcool, pois há um processo no seu organismo como um todo, que é muito grave e isso faz com que ele volte a consumir a substância”. Nesse momento, o apoio da família é fundamental na superação dos vícios.

3) “Pode sim. Não faz mal pra saúde”

Às vezes parece que não, mas a bebida mexe com todo o nosso corpo, como explica a psiquiatra Ana Cecília: “Altera o apetite, as condições do cérebro de regular todas as glândulas do organismo, porque nós temos a nossa glândula maior no cérebro, que comanda as diferentes glândulas no organismo”. Ovários e tiroide são algumas dessas.

E não é só isso. “Ele [o álcool] vai também desregular o sistema cardiovascular, o sistema respiratório, a nossa imunidade, o sistema renal, e por aí vai, bem na verdade o comprometimento é no organismo como um todo”. E continua: “Também altera o padrão de sono e vigília, o indivíduo tem muita alteração no horário de dormir, e o relógio biológico fica muito comprometido”.

4) “A bebida entra, a verdade sai”

Uma série de prejuízos na vida social, como desavenças com amigos e familiares. “O indivíduo, em função desse consumo, ele já tem prejuízo em diferentes áreas da vida dele, social, familiar, no trabalho, na sua própria relação do lazer”. Isso porque, entre outras alterações, a bebida alcoólica causa uma mudança de humor: “Esse tipo de alteração mental, digamos assim, do cérebro, altera o comportamento”.

“O indivíduo muda de humor, mostra esse humor alterado, ele pode se deprimir, pode ficar muito ansioso, pode ter uma oscilação, uma instabilidade do humor, pode estar impulsivo, agressivo”. Independente da reação que cada um apresente, uma coisa é certa: “com o álcool, ele vai manifestar diferentes problemas, e repercute no corpo como um todo”.

5) “Bebo socialmente, não interfere no meu trabalho”

O alcoolismo é o terceiro motivo para faltas e a causa mais frequente de acidentes no trabalho no Brasil. Além disso, atrapalha a produtividade: “É uma doença que se desenvolve no cérebro, e, portanto, altera todas as funções cerebrais: a atenção, a capacidade de se concentrar, e finalmente, nesse processo cognitivo, a memória”.

Bônus: “Ele bebe porque quer. É um problema moral”

Opa, opa, opa... antes de julgar alguém é importante perceber que o alcoolismo e outras dependências são causadas por uma série de fatores, e o apoio da família e dos amigos é essencial para a pessoa sair dessa o quanto antes. Para a psiquiatra Ana Cecília Marques, presidente da Associação Brasileira para o Estudo do Álcool e outras Drogas (Abead), “só tem um jeito de a família ajudar: ela se tratar também!”.

“É uma doença que atinge a família: ela adoece também”. Mesmo que, por hora, a pessoa não aceite ou peça ajuda, buscar profissionais pode ajudar as pessoas mais próximas a saberem como agir: “Essa é a recomendação para a família: busque ajuda, mesmo que o paciente não queira se tratar, você busca primeiro ajuda, como família. Consiga sua estabilização, seu entendimento do processo, e aí vai ser muito mais fácil inclusive ajudar o dependente”.