Com tratamento adequado, gestação de mães com HIV pode ter final feliz

Especialistas alertam para os cuidados necessários e apresentam os números mais recentes no Brasil

Karine Salles

29/11/2013 às 17h02 - sexta-feira | Atualizado em 22/09/2016 às 16h00

Diagnosticada com o vírus do HIV há dois anos, Flor* lembra do choque ao receber a notícia de que era soropositiva. Afinal de contas, não é fácil receber essa informação prestes a dar à luz. Felizmente, mesmo com a descoberta tardia, a pequena Flora* (hoje com dois anos) foi negativada assim que fez o primeiro exame.

Apesar da mistura de sentimentos — por um lado, a felicidade da maternidade e, por outro, o medo de fazer parte das estatísticas de uma doença que ainda não tem cura —, Flor contou ao Portal Boa Vontade  como foi aquele momento: “Levei um susto. Chorei muito. Achei que ia morrer. E pensei na minha filha, mas graças a Deus ela negativou”.

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Divulgação/Agência Fiocruz
Dra. Sandra Wagner
Contudo, a Fé em Deus a ajudou a superar esse momento de grande desafio. “Busquei força na minha família e na minha filha, junto com meus amigos, pessoas que realmente me amam. Também fiz tratamento psicológico durante um tempo. A Fé é essencial.”

Sobre o assunto, a dra. Sandra Wagner, médica infectologista e pesquisadora do laboratório de pesquisa clínica em HIV/Aids, do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (IPEC), da FioCruz, também acredita que “pensar positivo ajuda. [...] Tem que ter Fé mesmo e fazer a sua parte, que é fazer o acompanhamento médico, tomar o seu remédio na hora certa, procurar cuidar da sua saúde, se alimentar bem. É todo um conjunto de coisas que pode fazer”.

NÚMEROS DIMINUINDO: DADOS A COMEMORAR

O vírus do HIV/Aids continua sendo um dos desafios mundiais mais importantes na saúde pública. Apesar da tendência à estabilidade, a epidemia afeta de maneira diferenciada diversas regiões do mundo. A redução desse índice é uma das preocupações das autoridades de saúde mundial. Ao Portal Boa Vontade, a coordenadora do Unaids/Brasil, dra. Georgiana Braga-Orillard, destacou os avanços relacionados à doença: “No panorama global de crianças nascendo com aids esse número reduziu muito. Estamos agora com 40% a menos de crianças nascendo no mundo com Aids. Isso é algo muito bom, muito positivo”.

Arquivo Pessoal

Dra. Georgiana Braga-Orillard

A taxa de transmissão vertical do HIV, que representa a porcentagem de infecção da mãe para o bebê, vem apresentando redução gradativa. "Em países desenvolvidos já não há, é praticamente zero o índice de nascimentos de crianças [com o vírus]. Agora nós estamos vendo essa evolução passando para os países em desenvolvimento também. [No Brasil] é em torno de 400 crianças”, comenta.

Embora a média da incidência de aids em crianças de zero a cinco anos apresente queda significativa, ainda é necessário ter atenção especial. Outro ponto destacado pela dra. Georgiana e que deve ser comemorado é que “o avanço ao tratamento foi bem grande. As mulheres estão fazendo o pré-natal ou mesmo as que não fazem estão tendo mais acesso aos testes e, a partir deles, estamos identificando as mães soropositivas e já tratando antes e durante o parto para que os bebês nasçam sem HIV. Como essas mães estão testando mais e tendo acesso aos tratamentos, então os níveis caíram bastante. Caíram em até 50% em algumas localidades do mundo”.

O Brasil, por meio do Ministério da Saúde, com a política de referência mundialmente reconhecida, tem investido na qualidade de vida das mulheres soropositivas e portadoras do HIV, aumentando o acesso a serviços e capacitando profissionais de saúde sobre as relações de gênero, principalmente investindo em ações, programas e campanhas de prevenção. “O que temos a dizer é que o Brasil tem potencial de eliminar realmente essa transmissão de mãe para filho, porque 97% das mulheres grávidas acessam, em algum momento, o pré-natal. O Brasil tem o potencial de chegar a zero rapidamente”, ponderou a dra. Georgiana Braga.

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* Os nomes de mãe e filha foram alterados para preservar suas identidades.