Áudiodescrição permite que deficientes visuais enxerguem com os ouvidos

Essa inclusão junto ao público de produtos audiovisuais não requer muito investimento e já beneficia mais de 16 milhões de pessoas.

Karine Salles

30/08/2016 às 00h26 - terça-feira | Atualizado em 22/09/2016 às 16h08

Shutterstock

É tão bom quando chegamos em casa e ‘viajamos’ assistindo um programa de TV sobre turismo. Cheio de lugares e cenários diferentes, alguns até conseguem nos levar a outro país. Graças à tecnologia assistiva hoje em dia é bem possível inserir uma pessoa com deficiência visual ou baixa visão neste contexto.

A áudiodescrição permite ao espectador receber a informação contida na imagem ao mesmo tempo em que ela aparece. De acordo com secretário Antonio José Nascimento Ferreira, da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, “são técnicas de descrever imagens e transformá-las em palavras”, explicou ao Portal Boa Vontade. O procedimento, aliás, não está restrito à televisão, pois segundo ele, “geralmente está em filmes, teatros, espetáculos, mostras ou exposições”.

A audiodescrição já beneficia mais de 16 milhões de deficientes visuais. É um processo bem simples e que, segundo o secretário, “tem ganhado força a cada ano”. Isso porque, depois que foi implantada “[os programas] começaram a ser mais assistidos, pois mais pessoas começaram a se interessar. Além disso, hoje já temos uma boa quantidade de mão de obra à disposição do mercado e uma quantidade muito maior de horas de áudiodescrição na TV brasileira”.

Deficiente visual há 30 anos por conta de um acidente de trânsito, o analista de negócios Paulo Romeu é um dos muitos usuários da ferramenta. Apesar de todo o avanço, ele ressalta que ainda há muito o que ser melhorado, mas pondera que "com o recurso da audiodescrição melhora o entendimento de tudo o que está acontendo. A televisão passa a ser uma forma de entretenimento que antes a gente [deficientes visuais] descartava".

Funciona assim: é feita uma descrição clara e objetiva de todas as informações que é possível compreender visualmente e que não estão contidas nos diálogos. As expressões faciais e corporais que comuniquem algo, por exemplo; as informações sobre o ambiente, figurinos, efeitos especiais, mudanças de tempo e espaço, além da leitura de créditos, títulos e qualquer informação escrita na tela. O secretário salienta que “o Brasil é pioneiro em transmissão de TV com a tecnologia de áudiodescrição na América do Sul”. 

Essa inclusão de pessoas com deficiência visual junto ao público de produtos audiovisuais não requer muito investimento. “É praticamente uma cabine de tradução e a capacitação do profissional para fazer esse trabalho”, disse o secretário. E é o áudiodescritor que tem essa função de transformar as imagens em palavras. Ele pode ser um narrador, roteirista ou até mesmo um consultor (feito por pessoas com deficiência visual que verificam se o material apresentado consegue transmitir à pessoa com deficiência visual o conteúdo).

Destinada como um benefício para deficientes visuais, vale salientar que a áudiodescrição tem grande relevância também para a inclusão de pessoas também com deficiência intelectual e idosos, que muitas “vezes não conseguem enxergar bem os conteúdos que estão sendo veiculados”.

Para Paulo Romeu, "um bom audiodescritor é aquele que tira uma fotografia com os olhos e pela voz faz uma transmissão daquela imagem para a imaginação da gente. Mentalmente é como se a gente tivesse enxergando aquilo que é passado. Vamos conseguindo formar imagens".

Ainda segundo o analista de negócios, outra principal característica do perfil de um audiodescritor é a empatia, ou seja, a capacidade de se colocar no lugar de um espectador com deficiência e saber exatamente o que precisa e o que não deve ser descrito. "A experiência muda completamente. Quase que faz você enxergar. Uma descrição pode ser feita com poucas palavras, mas tem de fazer aparecer uma fotografia na sua mente", finalizou.