Arcebispo anglicano Desmond Tutu
Nathan Rodrigues
06/10/2016 às 14h01 - quinta-feira | Atualizado em 09/10/2016 às 10h35
A seção Linha do Tempo foi criada para resgatar depoimentos de personalidades brasileiras e internacionais acerca do trabalho socioassistencial realizado pela Legião da Boa Vontade (LBV) ao longo de mais de seis décadas de existência.
Nesta semana, destacamos as palavras do arcebispo anglicano e Prêmio Nobel da Paz de 1984, Desmond Tutu. Antes mesmo de embarcar para o Brasil, como registrou o jornal Correio Braziliense, em maio de 1987, declarou a um diplomata do Itamaraty, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil: “Ao chegar ao seu país, desejo encontrar-me com meus Irmãos de Fé e quero rever dois grandes amigos: Dom Hélder Câmara [1909-1999] e o presidente da Legião da Boa Vontade, José de Paiva Netto”. No mesmo ano, falando a representantes da LBV, afirmou: “Quero louvar o presidente mundial da Legião da Boa Vontade pelo seu artigo ‘Apartheid lá e Apartheids cá’ [publicado em 30 de março de 1986 no jornal Folha de S.Paulo], no qual ele procura conscientizar os povos de que há várias formas de racismo atuando em muitas partes do mundo, até mesmo no Brasil. (...) Gostaria de transmitir-lhe o meu muito obrigado pelo trabalho que realiza. Que Deus o abençoe e os prezados Legionários da Boa Vontade! Vocês se tornaram, ao longo de sua proveitosa atividade, estimados trabalhadores de Deus (...)”.
Em 2006, ano em que o dirigente da LBV celebrou o Jubileu de Ouro de trabalho na Obra, o arcebispo anglicano registrou: “Nestes 50 anos, Deus tem usado Paiva Netto poderosamente. Que Ele possa abençoá-lo e fortalecê-lo para que continue o trabalho divino no mundo, pelo Amor dos Filhos de Deus!”.
Nascido em 7 de outubro de 1931, na cidade de Klerksdorp, província de Transvaal, na África do Sul, Desmond Mpilo Tutu dedica a vida em prol da Paz e pelo fim dos preconceitos. Quando criança sofreu forte influência de um clérigo anglicano branco, o Pastor Trevor Huddleston (1913-1998), que era abertamente contra a discriminação entre as raças, fazendo-o perceber que nem todos os brancos eram maus, inclusive despertando nele a religiosidade.
Em 1975, tornou-se o primeiro deão — espécie de coordenador de sacerdotes — negro da catedral de Santa Maria, em Johannesburgo, já se destacando naquela época. Após três anos, é nomeado Secretário-Geral do Conselho das Igrejas da África do Sul, sendo novamente vanguardeiro ao ocupar esse cargo, no qual alcançou projeção dentro e fora do seu país como porta-voz Antiapartheid. Sua proposta para a sociedade sul-africana abrangeu direitos civis iguais para a raça negra, abolição das leis que limitavam a circulação, um sistema educacional comum e o fim das deportações forçadas.
Em reconhecimento à “coragem e ao heroísmo demonstrados pelos negros sul-africanos no seu uso de métodos pacíficos na luta contra o Apartheid”, foi agraciado, em 1984, com o Prêmio Nobel da Paz.