Violência contra a mulher: os impactos psicológicos e sociais
O Brasil já deu importantes passos para combater a violência contra a mulher, mas essas medidas ainda não foram suficientes para sanar o problema.
Da redação
07/03/2024 às 10h34 - quinta-feira | Atualizado em 08/03/2024 às 18h44
A cada 24 horas, ao menos oito mulheres são vítimas de violência
No ano de 2023, ao menos oito mulheres foram vítimas de violência doméstica a cada 24 horas. Os dados referem-se a oito dos nove estados monitorados pela Rede de Observatórios da Segurança (BA, CE, MA, PA, PE, PI, RJ, SP).
A informação consta do novo boletim Elas Vivem: Liberdade de Ser e Viver, divulgado nesta quinta-feira, 7. Ao todo, foram registradas 3.181 mulheres vítimas de violência, representando um aumento de 22,04% em relação a 2022, quando Pará e Amazonas ainda não faziam parte deste monitoramento.
Ameaças, agressões, torturas, ofensas, assédio, feminicídio. São inúmeras as violências sofridas que não começam ou se esgotam nas mortes registradas. Os dados monitorados apontaram 586 vítimas de feminicídios. Isso significa dizer que, a cada 15 horas, uma mulher morreu em razão do gênero, majoritariamente pelas mãos de parceiros ou ex-parceiros (72,7%), que usaram armas brancas (em 38,12% dos casos), ou por armas de fogo (23,75%).
Estados
O novo boletim ampliou a área de monitoramento. Pela primeira vez, o Pará está entre as regiões mapeadas, ocupando a quinta posição no ranking entre os oito estados com 224 eventos de violência contra mulheres. No contexto da Região Amazônica, estão as desigualdades sociais e o garimpo, que agravam essas dinâmicas violentas, segundo o relatório.
Na comparação com 2022, os dados mostram São Paulo como o único estado a ultrapassar mil eventos de violência – alta de 20,38% (de 898 para 1.081). Em seguida vem o Rio de Janeiro, que registrou 13,94% (de 545 para 621) a mais que no ano anterior. Já o Piauí, embora registre menos casos em números absolutos, é o estado que registrou a maior taxa de crescimento: quase 80% de alta em um ano (de 113 para 202).
Também no Nordeste, com 319 casos de violência, Pernambuco registrou 92 feminicídios. A Bahia lidera em número de morte de mulheres (199), o Ceará é o estado com maior registro de transfeminicídios (7) e o Maranhão lidera os crimes de violência sexual/estupro (40 ocorrências).
O Brasil já deu importantes passos para combater a violência contra a mulher, como a promulgação da Lei Maria da Penha e aumento do número de Delegacias da Mulher. Contudo, infelizmente, ainda está longe de sanar esse problema.
IMPACTOS PROFUNDOS
E os impactos dessa ação são muito mais profundos do que se imagina. A violência contra a mulher traz consequências negativas nos âmbitos físico, psicológico e até social. "Os impactos são de grandes ordens", ratifica a professora mestra Maria Fernanda Terra, especialista no tema. "É possível distinguir uma mulher que sofre violência pelo modo como ela anda na rua", comenta.
A vítima, explica a professora, tem"dificuldade de trabalhar, de ter uma relação de amizade, não vai sorrir com tanta frequência. Ela vai ter dificuldades em se relacionar numa sociedade."
Cultura contra a violência
O passo mais importante é denunciar qualquer tipo de violência contra a mulher. Ela pode ser feita em qualquer delegacia e ainda há organizações que protegem e buscam os direitos das vítimas. A Lei Maria da Penha garante punições a quem agride uma mulher em âmbito doméstico ou familiar e mostrou uma evolução significativa nos registros de denúncias, por intermédio da Central de Atendimento à Mulher, o Disque 180.
Em entrevista à Super Rede Boa Vontade de Comunicação (rádio, TV, internet e publicações),a farmacêutica Maria da Penha — que inspirou a criação da Lei 11.340/06, após ficar paraplégica pelas agressões do próprio marido — falou sobre a aplicação e os avanços da Lei, na defesa dos direitos das mulheres. Assista aqui
Delegacia da Mulher
As Delegacias da Mulher são um marco importante para a política de enfrentamento à violência contra as mulheres. Nelas, a vítima é acolhida por delegadas mulheres com atendimento especializado e direcionado a cada caso, buscando uma resposta eficaz à violência e contribuindo na consolidação da cidadania feminina.
Também em entrevitsta à Super Rede Boa Vontade de Comunicação, a dra. Rosmary Corrêa - delegada titular da 1ª delegacia da mulher - enalteceu esse importante instrumento no combate à violência contra as mulheres. Assista!
Outra medida tão importante quanto a denúncia é o nosso comportamento em relação à mulher que sofreu a violência. Não devemos, em hipótese alguma, julgar a pessoa, mas procurar entender como ela se sente, quais são seus anseios e como podemos ajudá-la. O julgamento acaba por afastar a vítima e isso não colabora em nada com a situação. "Colocar-se à disposição é muito importante. A denúncia ajuda a pensar estratégias e suporte para ela, mas a mulher, muitas vezes, está tão abalada que é bom que alguém esteja ao seu lado, mesmo no momento da denúncia", afirma Maria Fernanda.
Esse apoio, completa a professora, é tão necessário que, sem o incentivo de um terceiro, muitas mulheres desistem de denunciar o parceiro ou o agressor por medo de verem a família se desintegrar, perdendo a guarda do filho, por exemplo, ou por vergonha da situação.
O jornalista, radialista, escritor, Paiva Netto, também presidente da Legião da Boa Vontade, em seu artigo Combate à violência contra mulheres e meninas, publicado na revista BOA VONTADE Mulher, de março de 2013, faz importantes apontamentos acerca da valorização da mulher: "O assunto impõe-se como pauta inadiável nas agendas de governos e do Terceiro Setor. Na Legião da Boa Vontade, fazemos votos de que o sucesso acompanhe as iniciativas que visam proteger e valorizar as mulheres e as meninas. No Brasil e no mundo, as ações que surgirem para dignificá-las não só aplaudiremos, mas estaremos juntos. Defender as mulheres, as meninas, por consequência os homens, os meninos, enfim, a Vida desde o útero materno, é atitude em perfeita consonância com os objetivos de nossa atuação: vivenciar e propagar a eficiência desta mensagem de Paz trazida ao mundo pelo Ecumênico Jesus".
A violência contra a mulher é um problema de todos! A vítima ou uma terceira pessoa deve acionar a Polícia Militar, através do 190. Caso não seja possível, aconselha-se que a vítima procure a Delegacia de Polícia assim que houver condições, ou faça a denúncia através dos disques-denúncia 181 ou 180.
Reforçamos que a violência contra a mulher pode ser denunciada pessoalmente ou pela internet, por meio da Delegacia Virtual no site da Secretaria de Segurança Pública.
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* Feminicídio é o homicídio de mulheres em decorrência de conflitos de gênero, geralmente cometidos por um homem, parceiro ou ex-parceiro da vítima. Esse tipo de crime costuma implicar situações de abuso, ameaças, intimidação e violência sexual.