Dia Nacional chama atenção para luta da pessoa com deficiência

Hoje em dia, com o avanço da tecnologia e da medicina, as pessoas que possuem algum tipo de deficiência vivem tranquilamente, realizando tarefas da mesma forma que qualquer outra pessoa.

Da redação

21/09/2022 às 08h34 - quarta-feira | Atualizado em 23/09/2022 às 01h48

A Organização das Nações Unidas estima que aproximadamente 1 bilhão de pessoas vivam com alguma deficiência em todo o mundo. O Brasil conta com 17,3 milhões de PCD (Pessoa com Deficiência), sendo cerca de 8,4% da população, de acordo com dados do IBGE (2019). 

Nesse contexto, o governo brasileiro estipulou o dia 21 de setembro como o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência. A data é comemorada e lembrada todos os anos e serve de momento para refletir e buscar novos caminhos e como forma de divulgar as lutas por inclusão social.

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Hoje em dia, com o avanço da tecnologia e da medicina, as pessoas que possuem algum tipo de deficiência vivem tranquilamente, realizando tarefas da mesma forma que qualquer outra pessoa. Vão à escola, pegam ônibus, fazem exercícios físcos e até dirigem. Mas, mesmo assim, algumas continuam a enfrentar barreiras e muitas vezes são forçadas a ficarem "escondidas" da sociedade.

LBV na luta pela garantia dos direitos das pessoas com deficiência

Apesar da grande quantidade de cidadãos que têm dificuldades motoras, para ouvir, falar, caminhar e subir escadas ou que apresentam déficit mental/intelectual, boa parte daqueles que deveriam aplicar as políticas públicas, fazendo valer as leis no Brasil, ainda menospreza e/ou ignora a importância de se criar condições para que todos tenham oportunidades iguais. Para celebrar a data e refletir sobre inclusão e acessibilidade, a revista BOA VONTADE conversou com alguns dos usuários das escolas e dos Centros Comunitários de Assistência Social da Legião da Boa Vontade (LBV) que têm algum grau de deficiência. Na oportunidade, eles falaram sobre a garantia de seus direitos e como o acolhimento da Instituição contribui para o desenvolvimento pessoal e profissional deles, possibilitando a construção de um futuro melhor.

Vivian R. Ferreira
Arthur Oliveira dos Santos.

Arthur Oliveira dos Santos, 27 anos, e Maria Isabelle Anselmo, 24, tornaram-se amigos na Escola de Capacitação Profissional Boa Vontade, em São Paulo/SP, onde frequentam o Curso Técnico em Rádio e Televisão, o qual tem duração de um ano e meio e é ministrado em três semestres. Destinado a jovens e adultos, o Curso Técnico disponibilizado pela LBV é o segundo totalmente gratuito da capital paulista a conceder DRT, ou seja, o registro profissional emitido pela Delegacia Regional do Trabalho de cada Estado.

Maria Isabelle relata que não é surda completamente, conserva um pouco de resquício auditivo e que, por isso, consegue fazer a leitura labial, o que facilita a sua comunicação. Ela também destaca que o fato de ter cursado o último ano do Ensino Fundamental e todo o Ensino Médio no Conjunto Educacional Boa Vontade, na capital paulista, fez a diferença em sua trajetória e é de fundamental importância para sua profissionalização: “Além da forte educação, na qual se formam cérebro e coração*, eu nunca sofri preconceito na Instituição”. Depois de concluir a Educação Básica, alçou novos voos: está empregada como auxiliar de escritório, faz faculdade de Psicologia e matriculou-se no curso na Legião da Boa Vontade. “Muitos podem pensar que é impossível uma pessoa que tenha deficiência auditiva fazer audiovisual, mas foi um desafio que eu mesma me dei, e, conforme foram acontecendo as aulas, fui ficando ainda mais tranquila.”

Vivian R. Ferreira
Maria Isabelle

Tudo tem dado certo para Maria Isabelle, que encontrou na escola da LBV todo o apoio de que precisava, como a presença de um intérprete na Língua Brasileira de Sinais (Libras) e outras estratégias pensadas, a fim de que a jovem alcance bons resultados em sala de aula: “Eu deixo o meu celular perto da caixa de som para acompanhar na audição o que está sendo falado pelo professor ou o que está sendo mostrado no vídeo (o meu celular é conectado com meu aparelho auditivo via bluetooth). Consigo fazer essa junção entre o professor e o intérprete, adaptei-me bem com esses dois caminhos na aula e consigo entender 100% os conteúdos, as atividades que são propostas”, ressalta. 

Para Arthur, que possui dificuldades locomotoras nas pernas e caminha com a ajuda de muletas, não foi diferente, pois o respaldo que encontrou na LBV e na amizade com Maria Isabelle, na troca de desafios e de aprendizados, só fortaleceu esse jovem, que sonha em ser roteirista e trabalhar na linha de produção de televisão. A vocação para o veículo de comunicação vem da infância, quando encontrou uma companhia nos personagens de novelas e filmes, visto que passava quase todo o tempo em casa. Ele nos conta que demorou para que os médicos concluíssem o diagnóstico, e isso, somado à falta de estabelecimentos de ensino com acessibilidade, acabou atrasando seu ingresso na vida escolar. Junto a esses fatores, lamenta o jovem “que poucos são os deficientes encorajados a sair de casa, como também a sociedade não é incentivada o suficiente para saber lidar com as deficiências”.

Todos esses empecilhos postergaram seu ingresso na escolarização, e ele acabou finalizando a Educação Infantil com 10 anos. Apesar disso, Arthur não reclama, pois, graças a bolsas de estudos, pôde frequentar bons colégios até o fim do Ensino Médio e, agora, tem a oportunidade de realizar seu sonho na Legião da Boa Vontade. “Eu estou amando estar nesta escola. A LBV tem um acolhimento muito humano. Fui pesquisar a história da Instituição, e ela é assim, já na sua nascente, um olhar humanista no jeito de lidar com o indivíduo, de entender que cada um tem o seu porquê e sua jornada, que são pessoas diferentes. Graças a Deus, a Instituição inteira é muito acessível.” E completa dizendo que a experiência na Entidade tem sido enriquecedora, por estar em um lugar em que “as pessoas entendem que oferecer acessibilidade não é um privilégio, mas um direito, e que, quando a gente se torna independente, tem as mesmas chances na vida. Isso é promover equidade”.

Com oportunidades, pessoas com deficiência e empresas se beneficiam

Ao programa Sociedade Solidária, da Boa Vontade TV, a gerente de cidadania corporativa Andréa Regina explica que “a acessibilidade deve permear toda a empresa, sendo uma preocupação com o funcionário desde o momento que ele entra”. Na empresa onde trabalha, ela cita que há rampas de acesso e os sensores de incêndio emitem uma luz para as pessoas com deficiência auditiva perceberem o perigo.

Na mesma empresa, o advogado Marcos Bernardo Rodrigues, que tem deficiência visual, usa em suas atividades um computador com um software de voz que “funciona na leitura de textos e de páginas na internet, facilitando o meu trabalho”, afirma o profissional.

Muitos pensam que oferecer oportunidades de trabalho às pessoas com deficiência é um ponto positivo, mas que pode causar prejuízos na produtividade. Para quem pensa dessa forma, a gerente de cidadania Andréa Regina ressalta: “temos um índice de produtividade excepcional. O nosso grupo de pessoas com deficiência tem uma média de desempenho muito boa”.

Para o coordenador da área de diversidade e inclusão João Ribas, que também responde pelo programa de empregabilidade da pessoa com deficiência na companhia, “o mais importante é que a direção da empresa se comprometa efetivamente com a inclusão social e entenda que uma pessoa com deficiência, desde que bem treinada e com as ferramentas de trabalho necessárias, é um profissional que pode dar resultados".