ONU pede mais ação contra a perda e o desperdício de alimentos
As ações para evitar que toneladas e toneladas de comida acabem no lixo depende de cada um de nós.
Karine Salles
27/10/2021 às 12h39 - quarta-feira | Atualizado em 29/10/2021 às 12h12
As Nações Unidas apelam por uma ação mais forte para acabar com a cultura de jogar fora os alimentos não consumidos e, ao fazê-la, ajudar a enfrentar a tripla crise planetária das mudanças climáticas, da perda da natureza e da poluição.
O Índice de Desperdício de Alimentos 2021, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) mostrou, no início deste ano, a enorme escala do desperdício alimentar em todo o mundo. Em 2019, 931 milhões de toneladas de alimentos vendidos às famílias, varejistas, restaurantes e outros serviços alimentares foram desperdiçadas.
Estima-se que 17% dos alimentos disponíveis aos consumidores nos mercados, lares e restaurantes, vão diretamente para o lixo - e 60% desse lixo está em casa. Além disso, os dados mostram que o desperdício alimentar no nível do consumidor é realmente um problema global, significativo em quase todos os países que o mediram.
Uma pesquisa da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura também descobriu que aproximadamente 14% dos alimentos produzidos para consumo global é perdido entre a colheita e o varejo a cada ano.
Com até 811 milhões de pessoas afetadas pela fome em 2020, um número que aumentou com a COVID-19, e três bilhões de pessoas incapazes de pagar uma dieta saudável, é essencial uma ação global colaborativa para reduzir a perda de alimentos e o desperdício.
E O QUE PODE SER FEITO?
As ações para evitar que toneladas e toneladas de comida acabem no lixo depende de cada um de nós. Afinal de contas, há perdas no campo, no transporte, no armazenamento e no processo culinário. Aqui no Brasil, a organização não governamental Banco de Alimentos tem como objetivo minimizar os efeitos da fome e combater o desperdício de alimentos, permitindo que um maior número de pessoas tenha acesso a alimentos básicos e de qualidade, e em quantidade suficiente, para uma alimentação saudável e equilibrada.
Para a fundadora da ONG, Luciana Quinaglia Quintão, "é um absurdo muito grande ter pessoas passando tanta fome, com tanta dificuldade para existir, quando jogamos fora milhões de quilos de alimentos todos os dias, invés de fazer com que ele chegue a quem precisa". Os alimentos distribuídos pela organização são excedentes do comércio, perfeitos para o consumo. Além disso, há ações de educação com as instituição beneficiadas. "Ensinamos como ter o aproveitamento integral dos alimentos: como usar os talos, as cascas e as sementes. Isso é importante para quem tem o que comer e para quem não tem", explicou Luciana Quinaglia Quintão.
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"Precisamos acelerar o progresso para atingir a meta 12,3 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável até 2030 para reduzir pela metade o desperdício global de alimentos e reduzir as perdas de alimentos ao longo das cadeias de produção e abastecimento, incluindo as perdas pós-colheita", disse o Diretor-Geral da FAO QU Dongyu, alertando que só nos restam "nove temporadas (de colheita) para fazer isso".
Em seu artigo Crime do desperdício, o diretor-presidente da Legião da Boa Vontade (LBV) José de Paiva Netto alerta: "Urge impedir o desperdício. É providência sensata, humanitária, em todas as áreas e das mais diferentes classes sociais. É um crime, por exemplo, deixar estragar alimentos, quando milhões de pessoas ainda passam fome".
DONAS DE CASA DÃO O EXEMPLO
As sobras de alimentos consumidos no dia a dia não precisam, necessariamente, ser jogadas no lixo. Elas podem ser reaproveitadas em receitas saborosas e saudáveis. Essa é uma atitude simples que ajuda a combater o desperdício. Para a nutricionista Lilian Gullo criar esse hábito, além de nutritivo, auxilia na qualidade de vida. “Preparar esses alimentos da melhor forma possível inclui aproveitar cascas, talos e sementes”.
“Quando há sobra de arroz dá para fazer bolinho; o pão eu guardo de um dia para o outro, coloco na geladeira e no dia seguinte eu esquento e fica fresco; sobra de carne dá pra fazer muitas outras coisas, então, não há motivos para estragarmos os alimentos”, afirmou a dona de casa Lêda Almeida. Já a sra. Jussipara Trindade destacou que tem "o costume de fazer economia de alimentos porque sabemos que a população brasileira está passando dificuldades na mesa. A verdura que sobra, fazemos uma sopa. E dessa forma eu mostro aos meus filhos que lá fora a dificuldade é grande. A situação está cada vez mais difícil para milhares de pessoas, por isso temos que nos reeducar, para que amanhã não tenhamos dificuldades".
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Com informações das Nações Unidas e PNUMA