'Respirar fundo' hoje em dia pode trazer graves problemas de saúde

Karine Salles

14/02/2016 às 22h57 - domingo | Atualizado em 22/09/2016 às 16h04

Marcelo Camargo/ABr

Em seu artigo Cuidado, estamos respirando a morte!, o jornalista Paiva Netto nos alerta – a começar pelo título – ao mostrar que as nossas ações de hoje, de ontem e, provavelmente, as de amanhã – caso não mudemos  —, vão nos levar ao colapso geral. Não é de hoje que vários estudos mostram que a poluição mata, e mata mesmo! Então, de que adianta nos alimentarmos de maneira correta, com alimentos saudáveis, praticarmos atividades físicas com regularidade, se prejudicamos o ar todos os dias ao ir trabalhar sozinho com o nosso carro. Afinal de contas, não vamos sair por aí andando de máscara para respirar as impurezas que nós mesmo lançamos ao ar, não é mesmo?

Ai você pensa: não posso usar o meu próprio meio de transporte para me deslocar? Poder, até pode, mas se puder evitar é melhor. Quanto mais carros na rua, maior será a emissão de gases tóxicos e poluentes na atmosfera e, consequentemente, no seu pulmão, pois é dos escapamentos dos carros que sai a maior parte dos poluentes que ameaçam a saúde. 

A situação é tão grave que um estudo do Instituto Saúde e Sustentabilidade apontou que ao menos 4.655 pessoas morreram na capital paulista entre os anos de 2006 e 2011, em decorrência de doenças influenciadas pela inalação de ar poluído — como as cardiovasculares e as do pulmão, a exemplo do câncer. Trata-se do triplo de pessoas vítimas de acidentes de trânsito. "Uma das principais causas da poluição está relacionada à quantidade de veículos", explicou ao Portal Boa Vontade o gestor ambiental Renan Rodrigues da Costa, 24, do Instituto Saúde e Sustentabilidade.

Respirar em São Paulo, por exemplo, tem tirado um ano e meio de vida de quem vive na cidade. A poluição atmosférica é um fator de risco importante para o desenvolvimento de câncer de pulmão. O pneumologista Chin An Lin, pesquisador do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da USP, explica que “esses gases tóxicos e partículas adentram no pulmão e fazem uma inflamação tanto dos olhos, garganta, traqueia e o sistema respiratório todo”, disse ao Portal Boa Vontade. "A gente sente na pele, no rosto, na garganta a ação desses poluentes", reforçou. Além disso, quem já tem problemas respiratórios, como os asmáticos, é mais afetado. #SeCuida

Os idosos e as crianças também integram o grupo dos mais prejudicados pela poluição. O primeiro grupo "são de pessoas que não tem aquela imunidade que os jovens e  já têm o sistema respiratórios mais debilitados". Já o segundo, "normalmente tem o organismo em formação e em crescimento. Então juntamente com outros fatores como nutrição e ambiente inadequado têm o quadro piorado". Podemos incluir ainda os que nem nasceram ainda, que já sofrem as consequências da poluição atmosférica dentro do útero materno. 

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Um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que nove em cada dez habitantes de grandes centros urbanos estão sujeitos a níveis de poluição acima do aceitável. O levantamento, que inclui 1.600 cidades de 91 países, concluiu que as metrópoles não cumprem as diretrizes da OMS sobre níveis seguros de poluição do ar. Mas o que seria um ar aceitável? Chin An Lin salienta que é "aquele não tem nenhum poluente". E pondera que mesmo que local esteja dentro dos padrões aceitáveis, "não existem níveis seguros, pois esses poluentes continuam a provocar doenças". Mas vale lembrar que reduzir os níveis de poluição do ar, os países podem reduzir a quantidade de doenças por acidente vascular cerebral, doença cardíaca, câncer de pulmão e doenças respiratórias, tanto crônicas e agudas, incluindo a asma.

Ai de novo você pode pensar: vou para o interior, pois o ar é mais limpo. Quem já não pensou isso? Infelizmente essa talvez não seja a melhor ideia. Dependendo do lugar escolhido é como ‘trocar seis por meia dúzia’. Isso porque, segundo o pneumologista “algumas cidades do interior têm a economia baseada na agricultura sucroalcooleira e periodicamente fazem a queimada e com isso o lançamento de materiais no ar. E nessa época do ano, cresce a prevalência de doenças respiratórias”. Portanto, foi-se o tempo em que podíamos seguir aquele conselho: 'respira fundo', fazer isso hoje em dia é colocar a saúde em risco. Além disso, segundo o pneumologista outros dois fatores também determinam o nível de poluição: as condições meteorológicas e o relevo. 

+ VEJA SETE DICAS PARA PREVENIR A POLUIÇÃO E VIVER MELHOR

E tem mais: a poluição atmosférica traz prejuízos não somente à saúde e à qualidade de vida das pessoas, mas também acarretam maiores gastos do Estado, decorrentes do aumento do número de atendimentos e internações hospitalares, além do uso de medicamentos, custos esses que poderiam ser evitados com a melhoria da qualidade do ar dos centros urbanos. 

Portanto, reduzir a poluição do ar pode salvar milhões de vidas! 

O QUE É NECESSÁRIO PARA MUDAR?

A diretora-geral adjunta da OMS para a Saúde da Família, Criança e Mulher, Flavia Bustreo, salienta que "muitos centros urbanos estão hoje tão envolvidos em ar poluído que os seus horizontes são invisíveis". E "aos corredores que se exercitam no meio dos carros e no horário de pico, cuidado! Eles estão em marcha lenta, o que exige mais do motor, e você está se prejudicando", alertou o pneumologista Chin An Lin. Por isso, temos que prestar um pouco mais de atenção na nossa saúde respiratória. Os pulmões lançam sinais e sintomas de que algo não está bem. São eles: tosse, produção de catarro, chiado do peito, mais cansado que o habitual, coceira nos olhos, nariz e muito espirro. 

E o que é preciso fazer para mudar? Simples: transformar as nossas atitudes, pois só assim podemos vencer a luta contra a poluição do ar e reduzir o número de pessoas atingidas por doenças respiratórias e cardíacas. É claro que para isso precisamos também de políticas públicas e estratégias governamentais mais eficazes.

"Estamos chegando a um patamar de poluição que somente a ação da natureza não está sendo o suficiente para dispensar. Cada um de nós tem responsabilidades nesse processo", enfatizou o pneumologista Chin An Lin. E nós do Portal Boa Vontade preparamos algumas dicas práticas para que você contribua para um Planeta menos poluído! Não quer dizer que amanhã o ar estará ótimo, mas se começarmos hoje a mudança em nossas atitudes e hábitos, estaremos garantindo um mundo melhor para se viver para os nossos filhos, netos, bisnetos, enfim... para as futuras gerações. =)

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Vale reforçar que nesta matéria focamos na poluição do ar e nos problemas causados na nossa vida, mas ela pode ser aquática, sonora, visual, do solo.